Danilo Maluf: "Um trabalho sério não tem como dar errado"

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Edmar Ferreira

Um presidente mais sorridente, orgulhoso e cheio de otimismo. Durante duas horas estivemos na sala de Danilo Maluf no terceiro andar do Limeirão. Ele fez um balanço de sua gestão à frente da Internacional. Abordamos inclusive assuntos delicados, mas o comandante respondeu sem pestanejar.
É gostoso quando a gente acompanha todo o processo, desde a montagem do time, da permanência do técnico Júnior Rocha (contra tudo e contra todos), da chegada de peças importantes durante a trajetória e, principalmente quando os objetivos são alcançados.
A Inter entra em campo esta tarde contra o Red Bull Bragantino, em Bragança Paulista. Em jogo uma vaga nas semifinais do Paulistão. Poucos acreditavam no sucesso deste time.

Você esperava por essa campanha tão positiva no Paulistão?
Eu na função de presidente sempre fui otimista. Eu demonstrava isso nas minhas entrevistas iniciais. Eu sabia da qualidade do nosso elenco, da liderança do Júnior Rocha e até onde nós podíamos chegar. Sabia das responsabilidades e da seriedade que víamos em todos. Obviamente, que quando nosso grupo foi sorteado, todos nós ficamos mais preocupados. Simplesmente Corinthians, Mirassol e Red Bull Bragantino, o chamado "grupo da morte" para nós. Se a gente fizesse uma enquete antes, nem o mais otimista colocaria a gente nas quartas de final. Graças a Deus deu tudo certo. E podemos chegar ainda mais longe. Um trabalho sério não tem como dar errado.

Você chegou a temer pelo rebaixamento no início, após três jogos sem vitória?
Eu costumo entrar no vestiário apenas nas derrotas. Na reapresentação do time após a derrota para a Portuguesa na estreia, fiz questão de conversar com o elenco no centro do gramado. Citei como exemplo o boxe. Disse que tínhamos perdido apenas um round, mas que a luta ainda não tinha terminado, pois teríamos mais onze rounds pela frente. Disse que a gente não podia ser nocauteado logo no começo da luta. Olhei para o Zé Mário, para o Fernando Canesin e para o Everton Brito que estavam no elenco de 2023. Falei que quando perdemos na estreia para o São Bernardo por 3 a 0, também no Limeirão, demos a volta por cima e conseguimos nos manter na elite. Senti um grupo mais leve após essa conversa. Eu estou sempre com eles.

Que momento que você sentiu que a Inter conseguiria alcançar seus objetivos?
O empate sem gols contra a Ponte Preta mudou nossa chavinha. Senti que o time saiu fortalecido e confiante de Campinas. Em seguida vencemos o São Bernardo, em casa, e a partir daí pegamos aquela sequência incrível, ganhando de times da Série B do Brasileiro como Novorizontino, Guarani e Botafogo. E mais à frente o Ituano. Quando vi que nosso time jogava com alegria, pensei comigo, vamos longe. Quando escapamos do rebaixamento na sétima rodada foi um alívio muito grande. A gente estava tenso, era natural. Aí veio a vaga na Série D, que nos deu um up a mais. Quando veio a classificação então, nossa alegria triplicou. Estou orgulhoso de todo trabalho que realizamos até agora no Limeirão.

Você se arrepende de ter levado o jogo contra o São Paulo para Brasília?
De forma alguma. Faria tudo de novo. O Brasil inteiro falou da Inter. Fomos mostrado em rede nacional (TV Record). Acho que foi bom para o elenco também. Como a gente viajou no domingo para jogar na quarta, esse período acabou sendo uma mini pré-temporada para os jogos decisivos. E ficamos no hotel que concentra simplesmente a Seleção Brasileira. Não fizemos um bom jogo, infelizmente, e a derrota por 3 a 0 foi inevitável. Mas o que foi legal, é que os jogadores ficaram mordidos e não viam a hora de enfrentar o Ituano na rodada seguinte. Vencemos o time de Itu em casa e nos classificamos.

O deputado Miguel Lombardi te surpreendeu em Brasília?
Tudo o que vem do Miguel Lombardi não me surpreende. O nosso deputado federal é simplesmente um gentleman. Nos tratou com maestria em Brasília. Foi um verdadeiro anfitrião. Os jogadores adoraram ele. Jantou no hotel com a gente, tirou fotos, recebeu uma camisa oficial da Inter, nos levou em seu gabinete e deixou seu carro à nossa disposição. Foi com a gente no jogo e ficou no camarote do Mané Garrincha. Só tenho que agradecer essa cordialidade dele para com a Inter. Não é à toa que o povo limeirense gosta tanto dele.

Você usará o dinheiro que recebeu do jogo do São Paulo na Série D?
Veja bem, aqui temos o controle de todas as finanças. Vamos montar um time muito competitivo na Série D, isso pode ter certeza. Achei por bem, usar esse dinheiro para pagar todos os direitos de imagem e a premiação dos jogadores pela classificação para as quartas de final do Paulistão. Não devemos um centavo para o elenco. Os jogadores entrarão com a cabeça livre, sem nenhuma preocupação contra o Red Bull Bragantino. Prezo muito por isso na minha gestão.

Você foi massacrado por manter o Júnior Rocha. E hoje, como você vê os torcedores pedindo desculpas?
Eu gostei do Júnior Rocha desde o primeiro dia que o conheci na minha sala no Limeirão. Foi naquela semana que entrevistei Paulo Roberto, Roberto Fonseca, Francisco Diá e Ricardo Colbachini para fechar um treinador para a Série D. De todos, o único que trouxe um laptop e abriu na minha frente para mostrar uma lista de jogadores foi o Júnior. Vi uma seriedade absurda nele, sem contar sua inteligência. Só que ele ganhava bem mais no Figueirense. Ele aceitou reduzir seu salário na Série D, até para ficar mais próximo de sua família (Iracemápolis), para depois ganhar mais no Paulistão. No dia seguinte da entrevista fechei com ele. Novamente ele me surpreendeu. Cheguei no Limeirão e ele já estava trabalhando na montagem do time. São pequenos atos que fazem eu gostar cada dia mais dele. É por isso que banquei sua permanência. Eu sabia que ele ainda tinha muito para nos apresentar. Fez uma boa Série D. E olha que eu poderia ter o demitido após os 6 a 3 para o XV de Piracicaba. A pressão foi enorme. Cheguei até ter pesadelos com isso. Mas fui para casa, esfriei a cabeça e achei por bem continuar acreditando no seu trabalho. Fiz bem. Ainda bem que não o demiti.

Hoje a torcida não te cobra mais por isso?
Hoje o Júnior Rocha virou uma referência no Paulistão. Todos querem saber o segredo deste treinador e do nosso time. Simplesmente tiramos Corinthians e Mirassol do páreo e com uma folha bem menor (R$ 750 mil). Um jogador do Corinthians paga nossa folha. Achei bacana os torcedores pedirem desculpas pelas críticas ao Júnior na rádio. A vida é assim. Quando você reconhece um erro, você se torna uma pessoa melhor. O próprio treinador trabalha mais feliz, pois sabe que está tendo o apoio do seu torcedor. E outra coisa, muitos times estão de olho nele e querem o tirar do Limeirão. Mas ele é tão correto que prometeu cumprir a sua palavra e ficar com a gente até o fim da Série D. A não ser que apareça um gigante do Brasil. Aí fica complicado. A gente ia entender. Mas temos que agradecer o incansável trabalho deste treinador, que vive 24h no Limeirão. A dedicação dele é absurda.

Como é sua relação com a torcida leonina?
A torcida sempre esteve comigo, nas alegrias e nas dificuldades. A nossa relação é muito boa. Tem torcedor que liga para mim. Outros vêm na minha sala. Estou sempre à disposição deles e procuro ajudar no que for possível. Gosto de ser transparente e passar a real para todos. Minha vida sempre foi voltada para isso. A torcida é o patrimônio de um clube.

Dá para passar pelo Red Bull Bragantino?
Por que não? Temos que acreditar na ótima primeira fase que fizemos. Os retornos do Felipe Albuquerque, do Zé Mário e do Juninho nos deixam ainda mais fortes. Mas não podemos deixar de elogiar o Red Bull. Além da estrutura fantástica que tem, possui um elenco muito competente, com jogadores acima da média. Tem também um treinador português (Pedro Caixinha) muito inteligente, que desenvolve um trabalho de excelência no clube. Vamos enfrentar um adversário muito qualificado. Que possamos estar inspirados esta tarde. Confesso, estou bem ansioso. Mas é legal ver que a cidade está mobilizada em torno da Inter.

A Inter não ganhou o Prêmio Excelência da FPF. Lhe causou surpresa?
Eu já esperava por isso. O prêmio é relativo a 2023. No ano passado herdamos a administração do Lucas D'Andrea e praticamente começamos do zero. Nesse prêmio conta muito a organização e naquele momento não estávamos organizados. Não tinha nem o balancete. Tenho certeza que em 2025 ganharemos esse prêmio. Este ano tudo está organizado. Temos o Flávio Canassa que faz um trabalho muito bom na parte financeira. Arrumamos a casa.

Você ficou decepcionado com a baixa adesão do programa sócio-torcedor?
Não vou usar a palavra decepcionado, mas esperava muito mais. A procura foi baixa e nesse ano as vantagens eram maiores. Os preços estavam bons, acessíveis. Tivemos menos da metade de 2023. Não passamos de mil sócios. Acredito que seja pela desconfiança do time no início, da permanência do Júnior Rocha, pois todos queriam a sua saída, enfim. Quem sabe na Série D a procura seja maior, pois vamos lutar para subir, pode ter certeza disso.

A Inter não tem gerente de futebol e nem CEO. Foi uma decisão acertada?
Com certeza. Economizamos o dinheiro desses cargos, que não é pouco, para reforçar o time. O próprio Júnior Rocha já faz esse trabalho no Limeirão. Apenas encurtamos o caminho do presidente ao treinador. Nos falamos todos os dias. Hoje nem pensamos mais em ocupar esses cargos. Nossa equipe de trabalho dá conta do recado.

Você vai concorrer a reeleição em outubro?
Ainda é cedo para falar sobre isso. Por várias vezes fui questionado em reuniões do Conselho Deliberativo e coloquei meu cargo à disposição. Falo sempre que é só apresentar um nome de consenso, que eu saio, sem problemas. Tem assuntos que tratam comigo que às vezes não tem o menor cabimento. É perda de tempo. Isso me chateia muito. Me tira do sério. Mas respiro, tomo uma água e vou em frente. A verdade é que antes de eu assumir a presidência, todos sabiam que tinha uma dívida de R$ 2 milhões para resolver. Só eu encarei essa bucha. Mas criei uma casca em mim. Com um trabalho de formiguinha fomos arrumando a casa. Hoje a Inter está muito bem organizada e os frutos estão vindo dentro de campo. Tudo está correndo bem, andando nos trilhos. Mas sempre tem os do contra. Mas em todo clube tem isso. Vou continuar trabalhando em prol do clube, sempre em busca de melhorias.

O assunto SAF te consumiu demais?
Me desgastou demais. Deixamos escapar um projeto espetacular do Guilherme Bellintani (Bahia), que revolucionaria a Internacional. É algo surreal. Até hoje não entra na minha cabeça como o Conselho Deliberativo não aprovou. A Inter hoje estaria em outro patamar, pensando em Série A do Campeonato Brasileiro. Além disso, teria um dos melhores centros de treinamento do país. Mas, como não passou pelos conselheiros, vamos seguir com nossa realidade, que é buscar recursos e ficar sempre com os pés no chão.

Mas a SAF é coisa do passado?
De jeito nenhum. A SAF é imprescindível para qualquer clube brasileiro. É o futuro de todos. Não tem como escapar. É por isso, que hoje lamento a Inter não estar com o Guilherme Bellintani, pois estaríamos na frente de quem ainda não tem SAF. Daríamos um passo gigantesco e elevaríamos o patamar da Inter como uma das potências do futebol brasileiro. Foi o melhor projeto que passou até hoje pelas minhas mãos.

Onde anda o Dr Sérgio Tarcha?
Está em São Paulo. Ele era uma pessoa bastante ativa no Limeirão, principalmente na base. Os meninos do Sub-20 gostavam muito dele. Infelizmente a gente perde pessoas próximas que estavam com a gente. Mas quem sabe um dia ele volte a nos ajudar.

Quanto você já pagou de dívidas desde que assumiu?
A primeira coisa que fiz quando assumi a presidência foi fazer um acordo com os 30 jogadores que ainda tinham contrato com a Inter. Chamei um por um na minha sala e negociei. Vou citar um exemplo aqui. O Rafael Pin tinha R$ 60 mil para receber. Fiz um acordo de seis parcelas de R$ 10 mil. Honramos direitinho. O goleiro, que inclusive tentei trazer de volta, mas ele tem contrato no Uberlândia, nos ligou agradecendo por ter acertado tudo com ele. O Júlio Rush a mesma coisa. Isso me da orgulho. Mas posso afirmar que já pagamos R$ 5 milhões de dívidas na minha gestão.

A Inter vai mesmo brigar para subir para a Série C?
Esse é o nosso objetivo do segundo semestre. Vamos manter uma base sólida, com mais de dez jogadores. Claro, não tem como segurar os destaques do time, que foram bem no Paulistão. O mercado está aquecido. Os times estão em cima dos nossos jogadores. Mas uma coisa é certa. Se a gente passar do Red Bull Bragantino hoje, eu seguro o time inteiro para a Série D. Aí você vai ver se não vamos subir.

Os patrocinadores leoninos te ajudam e são fiéis?
Sem dúvida, só tenho que agradecer. Meu abraço e meu respeito à todos da Unimed, Construjá, Ares, BRZ, Go Bank, Ali Pneus, Haus Tintas, Alluri Sports, Krona, Tatu e Poty.  

A Inter pensa em ter um time feminino?
Com certeza. Faz parte dos nossos planos. Até porque o futebol feminino vem crescendo no país. Seria interessante investir com o dinheiro do Projeto da Lei de Incentivo. Estamos nos estruturando para implantar a categoria no Leão. Mas eu gostaria que nosso time fosse formado por meninas da cidade. Em breve teremos novidades a esse respeito.

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