Marcius Melhem e a Liberdade de Expressão

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Uma nova notícia envolvendo o ator Marcius Melhem veio à tona nos últimos dias. A Revista Piauí levantou novos fatos e entrevistas sobre as acusações que envolvem o artista. Como de costume, o jornalista responsável entrou em contato com a assessoria de imprensa de Melhem para oferecer espaço para se manifestarem. Conforme noticiado pela revista, a assessora disse que enviaria respostas e começou a postergar prazos. Enquanto isso, ganhou tempo para o ator entrar juridicamente contra a revista e impedir que a publicação da matéria fosse divulgada.

A juíza Tula Corrêa de Mello, da 20ª Vara Criminal da Justiça do Rio de Janeiro, acatou o pedido de Melhem e determinou “a suspensão, pelo tempo que durarem as investigações, da publicação de matéria na revista Piauí ou seu respectivo site”. Em caso de descumprimento da medida judicial, a juíza estabeleceu multa de 500 mil reais, além do recolhimento dos exemplares da revista nas bancas e da remoção da reportagem do seu site. Também mandou investigar o vazamento.

CONTRA CENSURA

E, o que a revista Piauí fez? Publicou a matéria com uma tarja preta em cima de tudo que supostamente Marcius fez. Certamente a matéria repercutiu ainda mais, ganhou de “presente” uma pauta inteirinha contra o próprio humorista, pois pode publicar a história deste episódio de censura e ainda, deixou para que o leitor pudesse imaginar o que aconteceu com Marcius, uma vez que a tarja preta não fala nada, cada um pode pensar o que quiser. E, geralmente, como a imaginação do ser humano é fértil, o que cada um pensa pode ser muito pior do que o fato em si.

Como pode uma pessoa da mídia, ator conhecido, comediante, autor e diretor agir de forma tão errada? Isso, sem contar a situação dos assédios que ele está envolvido (entenda, abaixo).

CASO MELHEM

Em dezembro de 2020, a revista Piauí publicou uma reportagem sob o título O que mais você quer, filha, para calar a boca?”. Nela, haviam os casos de denúncia contra o humorista. Dezenas de pessoas foram ouvidas pelo repórter, entre elas, duas vítimas de assédio sexual, sete vítimas de assédio moral e três vítimas dos dois tipos de assédio, o sexual e o moral. A situação também envolveu os casos relatados por Dani Calabresa, como um ataque ocorrido no bar Vizinha 123, em Botafogo, quando Marcius, que era seu chefe, tentou beijá-la à força e a pressionou contra a parede.

Quando a reportagem foi publicada, Melhem processou a revista, acusando ser uma matéria mentirosa e tendenciosa. Na ocasião, o juiz Eduardo Tobias de Aguiar Moeller, da 2ª Vara Cível do Foro Regional de Pinheiros, em São Paulo, julgou como não procedente. Melhem está recorrendo contra a sentença.

ENTENDENDO O JORNALISMO

Jornalisticamente analisando, o repórter fez tudo certinho. Levantou fontes, coletou materiais, escreveu a história e ofereceu o espaço ao envolvido nos fatos se manifestar. A assessoria do Melhem foi a primeira a agir de forma errônea, tentando ganhar tempo para postergar a publicação da reportagem.

Muitas vezes é isso que acontece no nosso dia a dia. Nos deparamos com notícias, fatos e informações importantes e relevantes para levar à população. Para cumprimos nosso papel, procuramos as partes e verificamos as fontes. Quando não recebemos resposta, publicamos com a informação correta, explicando que “as partes interessadas foram procuradas e até o fechamento não houve respostas”, ou algo assim.

Quando é uma revista, como no caso do ator, há um tempo maior, um espaço maior. Com mídias diárias (jornais, rádios, TVs, blogs, etc), para não perder o momento da matéria, o tempo é menor. Mas, em todos os casos, a pessoa consultada é informada do prazo que tem.

Mas, voltando aos fatos, a assessoria errou feio com sua própria ética profissional. Seus advogados não foram estratégicos o bastante, pois jamais imaginariam que aconteceria a publicação e o deixaram em ‘lençóis ainda piores’ (porque já estavam ruins antes!). Agora sua história está ainda mais exposta e, junto dela, um episódio de censura.

Nessas horas, é melhor fazer como o Bill Clinton: assumir, admitir, ir à público e pedir desculpas a todos os prejudicados com seus erros. E, aos processos judiciais, deixar para a justiça fazer a parte dela.

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