Os temporais no Litoral Norte e a urgência na agenda do clima

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Esta semana, nos dias 13 e 14 de abril, em eventos no município de São Sebastião, o Ciesp e a Fiesp, em parceria com instituições financeiras e universidades, realizaram mutirões de crédito e mentorias gratuitas para micro, pequenas e médias empresas cujos trabalhos e instalações foram prejudicados pelos temporais no Litoral Norte paulista durante o Carnaval. Empréstimos com juro zero ou mais baixo do que o de mercado e consultoria com professores e especialistas em gestão visam contribuir para que os negócios retomem suas atividades normais.

A rápida mobilização das duas entidades, numa ação de responsabilidade cívica transcendente à representatividade institucional, terá imediato e significativo impacto positivo. Nas áreas atingidas pelas chuvas recordes, há cerca de 12 mil empresas, distribuídas nos setores de comércio, serviços, indústria e turismo. Em torno de 50% são hotéis, pousadas e alimentação fora do lar. Imaginem as perdas para a região causadas pelos danos físicos e prejuízos financeiros sofridos por esse conjunto numeroso de empreendimentos.

De maneira simultânea a essa ação emergencial destinada à recuperação das empresas, retomada da economia regional, preservação de empregos e manutenção dos negócios, cabe uma séria reflexão: poucos dias após as tempestades no Litoral Norte de São Paulo, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU divulgou seu novo relatório. O documento alerta que o aquecimento da Terra tem aumentado a frequência e a intensidade de fenômenos climáticos extremos em todo o mundo, cujos impactos são cada vez mais perigosos.

Por isso, é urgente ação global efetiva no sentido de reduzir ao nível mínimo possível a emissão de gases de efeito estufa. O organismo das Nações Unidas frisa que a temperatura média mundial já subiu 1,1 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais, em consequência direta da queima de combustíveis fósseis em mais de um século. O Acordo de Paris, firmado em 2015, na COP 21 - Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, fixou em 1,5 grau o limite máximo. Ou seja, já estamos quase no patamar máximo de risco e os países praticamente em nada cumpriram os compromissos assumidos no histórico encontro realizado na capital francesa.

O Relatório Síntese sobre Mudança Climática 2023 indica que a meta de 1,5 grau somente poderá ser cumprida se a emissão de gases de efeito estufa for reduzida pela metade até 2030. Para isso, o documento recomenda as seguintes medidas urgentes: transportes e eletrificação com zero ou baixa geração de carbono; expansão do uso de energia limpa; e mudanças no setor de alimentos, produção industrial e uso do solo.

Sem dúvida, é decisivo o papel dos governos para que essas medidas sejam implementadas. Entretanto, também é grande a responsabilidade da sociedade e dos setores produtivos. Neste último aspecto, merece muita atenção a Pesquisa Rumos ESG na Indústria Paulista, realizada pelo Ciesp e a Fiesp. O estudo mostra que nosso setor é diretamente impactado pelos preceitos da governança ambiental, social e corporativa e peça-chave na transição para um modelo econômico mais sustentável.

Por ser grande consumidora de recursos naturais que, após processados e consumidos, podem retornar ao meio ambiente sob a forma de resíduos, a manufatura, ao incorporar critérios ESG em suas operações, contribui para o desenvolvimento sustentável, proporciona ganhos ecológicos e econômicos e gera valor para o País e a população. Por isso, por meio de workshops, programas de orientação, estímulo à substituição energética e outras iniciativas, temos buscado colocar a indústria paulista na vanguarda da agenda do clima.

Vencer a luta contra o aquecimento terrestre é fator condicionante para o êxito da economia, qualidade da vida, redução da miséria e preservação ambiental. Mais do que adotar ações emergenciais como a que estamos realizando para socorrer empresas afetadas pela grave intempérie climática no Litoral Norte paulista, são necessárias medidas concretas capazes de evitar que fenômenos extremados como esse tornem-se recorrentes em nosso país e no mundo.

 

*Rafael Cervone, engenheiro e empresário, é o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp.

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