
Mitos e suas reflexões
Eu sempre adorei Mitologia Grega.
Comecei a ler mitos muito nova.
Quando criança eu fuçava e devorava livros que moravam nas estantes da casa dos
meus avós paternos. As primeiras enciclopédias, títulos clássicos como Madame
Bovary e O Caso Dos Dez Negrinhos eu li graças aos livros que lá estavam. Não
sei quem os comprou ou como foram parar ali, mas entre eles havia uma
enciclopédia infantil com personagens da Disney que me encantava, cada uma
tratada de um assunto e uma delas era sobre Mitologia Grega. Personagens da
Disney ilustravam Hercules, Circe, Medéia, Zeus, Prometeu... Os textos eram
fáceis e fascinantes.
Mais crescida eu segui
interessada e na faculdade pude estudar os mitos e suas representações do vasto
terreno que é a mente humana.
Uma das mais conhecidas e que
ilustrará hoje aqui meus escritos é A Caixa de Pandora.
O mito da caixa de Pandora surge
como uma espécie de continuação do mito de Prometeu – aquele que tinha o fígado
devorado todos os dias por roubar o fogo sagrado dos deuses. Prometeu incorre
no maior erro que um homem pode cometer: o de querer ser Deus. Pagou caro por
isso e deve ter sido daí que vem a expressão “vai devorar seu fígado” como
representação de raiva, da ira.
Mas vamos a Pandora e a caixa.
Epimeteu, que era irmão de
Prometeu, alertou seu irmão para tomar cuidado com os deuses e com seus
presentes, mas claro que o primeiro não ouviu a tal advertência.
Segundo o mito, Zeus, o rei dos
deuses, ordena a criação de Pandora, a primeira mulher mortal, como parte de um
plano para punir a humanidade porque os homens. Pandora é dotada de todos os
dons dos deuses, incluindo a curiosidade.
Zeus dá a Pandora uma caixa
(alguns autores relatam que era um jarro) que contém todos os males do mundo,
mas a adverte para nunca a abrir. No entanto, a curiosidade de Pandora é
irresistível, e ela acaba abrindo a caixa, liberando assim todos os males -
como a dor, a doença e a morte - que se espalham pelo mundo.
Ao perceber o que fez, Pandora
rapidamente fecha a caixa, deixando apenas uma coisa dentro: a esperança.
A história é frequentemente
interpretada como uma explicação simbólica para a origem dos sofrimentos
humanos e como um lembrete sobre os perigos da curiosidade excessiva e das
ações impulsivas.
A caixa de Pandora oferece rica
material para reflexões a partir de uma perspectiva psicológica e
comportamental.
Pandora representa a curiosidade
humana, um impulso inato que nos leva a buscar conhecimento e explorar o
desconhecido. Embora a curiosidade possa levar a descobertas valiosas, também
pode ter consequências negativas. Do ponto de vista psicológico, isso reflete a
dualidade entre os benefícios e os riscos do desejo de conhecer mais. Em
algumas situações, buscar respostas pode nos ajudar a resolver problemas e
crescer; em outras, pode nos levar a enfrentar verdades duras.
A ação de Pandora ao abrir a
caixa, apesar da advertência de Zeus, pode ser vista como um ato de
impulsividade. Em termos comportamentais, isso ressoa com a luta humana entre o
controle dos impulsos e a tomada de decisões ponderadas. A incapacidade de
resistir à tentação muitas vezes resulta em arrependimento e sofrimento,
sublinhando a importância do autocontrole e da reflexão antes de agir.
Liberdade é também sobre ceder aos impulsos mais primitivos.
A liberação dos males do mundo
pela caixa de Pandora simboliza a inevitabilidade do sofrimento humano. Na
psicologia, isso pode ser interpretado como um reconhecimento da dor e das
dificuldades como partes inerentes da experiência humana. A maneira como lidamos
com esses desafios pode definir nossa resiliência e crescimento pessoal. A
presença da esperança dentro da caixa, mesmo após a liberação dos males,
ressalta a importância de manter a fé diante das adversidades.
Finalmente, a ideia de que a
esperança permaneceu na caixa nos lembra do poder psicológico da esperança. Em
momentos de dificuldade, a esperança nos fornece a força emocional necessária
para perseverar. Este conceito está alinhado com teorias psicológicas que
sugerem que a esperança e o otimismo são fundamentais para a saúde mental e o
bem-estar.
A história de Pandora, bem como a
riqueza da mitologia grega, romana, nórdica...não são apenas fábulas
fantásticas, mas foram escritas para simbolizar a reflexão profunda sobre
aspectos universais da existência humana. Eles nos oferecem metáforas ricas e
narrativas profundas que ressoam com experiências universais.
Essas histórias atemporais nos
fornecem uma linguagem simbólica para articular aspectos complexos da psique
humana e nos ajudam a encontrar significado em nossa jornada pessoal. Eles nos
convidam a uma introspecção profunda e a um crescimento contínuo, nutrindo
nossa busca pelo autoconhecimento e pela reflexão.
Talvez minha curiosidade e meu
encantamento pela mente humana tenham começado ali, talvez aqueles livros
tenham contribuído para que eu me tornasse a estudiosa de gente que sou. Não
sei ao certo quando foi que decidi me tornar psicóloga, mas não me restam dúvidas
sobre o fato de que os livros tiveram grande influência sobre minhas escolhas e
sobre quem sou hoje.
A capacidade e simbolizar tira o
homem do estado de mediocridade e de uma existência meramente sensorial,
incapaz de produzir vida em seu mundo psíquico. Me assusta, me amedronta e me
entristece escrever para poucos leitores, viver em uma sociedade que pouco lê e
que ataca a literatura de forma tão brutal. São nestes momentos que preciso
recorrer à caixa onde restou a esperança e acreditar que ela será capaz de me
dar forças para suportar os males que andam soltos por aí.
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