Por Farid Zaine

@farid.cultura

A luminosa ideia de um homem que, para honrar a memória de sua mãe, resolve abrir um restaurante italiano inspirado nas comidas que ela e a avó preparavam, e que para dar andamento ao seu projeto contrata vovós como “chefs”, pode parecer pura ficção, mas isso de fato aconteceu. A história real é de Joe Scaravella, que se joga na aventura de construir um restaurante baseado em “culinária afetiva” : ele se lembra de seu tempo de criança, quando observava a mãe e avó na cozinha, preparando pratos italianos, cheios de segredos que os diferenciavam de todos os outros. Seu encantamento perdura até se tornar adulto e, quando ele fica sem as duas, passa a pensar sobre que rumos dar à sua vida, estimulado por amigos, especialmente Bruno, que convive com ele desde a infância. Quando Joe pensa em reabrir um velho restaurante em Staten Island, dando-lhe o nome de Enoteca Maria, em Nova Iorque, o que ele deseja é que as pessoas compartilhem com ele o prazer de comer em família, provando receitas que só o conhecimento natural e o amor de uma avó conseguem transformar em preciosidades.

Esse é o mote de “Nonnas”, filme de Stephen Chbosky, com Vince Vaughn no papel de Joe. E para interpretar as “chefs” avós, aconteceu uma reunião de ótimas atrizes veteranas , todas com vasto currículo e com papéis marcantes na carreira: Susan Sarandon, 78 anos (Oscar de melhor atriz por “”Os Últimos Passos de um Homem” ), Talia Shire,79  (Rocky, um Lutador), Lorraine Bracco, 70 (Família Soprano) e Brenda Vaccaro, 85 (Perdidos na Noite). O quarteto funciona muito bem. O público mais adulto vai se lembrar delas em filmes importantes. Sarandon é a que teve uma carreira mais sólida , com uma filmografia extensa e repleta de sucessos, como “Thelma e Louise”. Shire ficou marcada para sempre pela figura da companheira de Rocky Balboa (Sylvester Stallone), Adrian, no vencedor do Oscar 1977, “Rocky, um Lutador”. Vaccaro, por sua vez, a mais velha, tem no currículo a participação em um dos melhores filmes de todos os tempos, o icônico “Perdidos na Noite” (Midnight Cowboy). E Bracco consolidou sua imagem na famosa série “Família Soprano”. Essas avós talentosas são, na verdade, o tempero perfeito para o sucesso de “Nonnas”.

Não há quem não se lembre de alguma comida marcante na vida da família, alguma receita única que o amor e o talento das mães e avós preparam e consagram. Mesas fartas com muita comida e muita gente barulhenta reunida são marcas da cultura italiana, coisa que o diretor Chbosky quis acentuar em “Nonnas”. Por extensão, quer mostrar nessa história original, mas verdadeira, a importância dos laços familiares fortalecidos pela culinária afetiva.

“Nonnas” é uma comédia dramática leve, sem grandes pretensões, que atinge seu objetivo. Durante seu desenvolvimento somos o tempo todo transportados para nossas próprias experiências dentro das nossas famílias. No meu caso, lembrei-me com saudade e gratidão tudo o que fizeram por mim  e meus irmãos a minha mãe e minhas avós, uma de origem italiana – seus pais eram de Verona -  e outra libanesa, nascida em Beirute. O gosto pela comida desses dois povos, e sua famosa culinária, foi captado com perfeição por minha mãe, cuja comida era celebrada por todos os membros da nossa grande família. Uma saudade com cheiro de macarronada regada a molho cheio de segredos, quibes e charutos, entre outras delícias, saciou meu coração e acendeu encantadoras memórias em minha mente. 

“Nonnas”, sucesso da Netflix, que entra na onda de filmes que valorizam histórias de “chefs” de cozinha, tem como tempero  principal o fato de ser baseado em fatos reais e de ter seu enredo contado por simpáticas figuras, capazes de transmitir afeto e despertar deliciosas lembranças. 

“Nonnas” passa a ser um prato saboroso para aquecer os almoços dos domingos preguiçosos desse fim de outono e  do inverno que se aproxima.

Nonnas – (EUA, 2025) – Filme de Stephen Chbosky, com Vince Vaughn, Susan Sarandon, Talia Shire, Brenda Vaccaro e Lorraine Bracco. Disponível na Netflix.

Cotação: ****MUITO BOM