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Cuidando de Quem Cuida

Queridos leitores, hoje dedico meu artigo aos amigos do Centro Dia Flor do Sol, dirigido pela psicóloga Lucimara Aparecida Faber. Em nome da Senhora Aparecida de Lourdes Beltran Osmulzki e do Senhor Adão Paulo dos Santos e todos os seus internos.

Dessa forma, dedico também este espaço àqueles que sustentam, quase sempre em silêncio, o cuidado diário com nossos idosos mais frágeis, especialmente aqueles que enfrentam o árduo caminho da demência, como a Doença de Alzheimer. 

Cuidar de alguém nessas condições não é apenas uma tarefa, mas uma verdadeira missão de amor. No entanto, essa missão, tão nobre, vem acompanhada de solidão, exaustão e uma profunda renúncia pessoal.

A maioria dos cuidadores é formada por familiares quase sempre mulheres: esposas, filhas, noras, irmãs. São elas que, mesmo diante do cansaço extremo, seguem firmes, carregando o paciente no colo e a dor no coração. Muitas vezes, esse cuidador tem irmãos, tios, primos… mas é ele quem está lá, todos os dias. É ele quem troca a fralda, alimenta, acompanha ao médico, acalma a crise, enfrenta o silêncio e a confusão mental. É ele quem vê o olhar vazio de quem antes o reconhecia e segue em silêncio.

Cuidar de alguém com demência exige tempo, paciência, força física, equilíbrio emocional e, sobretudo, presença. Mas quem cuida também tem corpo, tem alma, tem limites. E quando esses limites são ultrapassados, surgem o cansaço extremo, o estresse crônico, a insônia, a ansiedade, a depressão e, em muitos casos, doenças físicas. Já vi cuidadores adoecerem mais gravemente do que os próprios pacientes.

Por isso, é urgente falarmos sobre o cuidador familiar, essa figura invisível, esquecida pelas políticas públicas, negligenciada pela própria família e, muitas vezes, por si mesma. Sim, porque quem cuida quase nunca se permite adoecer, descansar ou pedir ajuda. E isso é perigoso. A sobrecarga do cuidador compromete todo o sistema de cuidado.

Uma sociedade que abandona seus cuidadores está adoecendo em sua essência. O cuidado deve ser coletivo. Dividir responsabilidades é um ato de amor, não de fraqueza. É preciso que os outros familiares se envolvam, ainda que de forma pontual. Uma tarde de descanso, uma ida ao mercado, uma noite de revezamento já fazem diferença. E se você não pode ajudar fisicamente, ofereça apoio emocional, ouça, ligue, reconheça.

Também é papel do poder público desenvolver políticas de suporte ao cuidador: grupos de apoio psicológico, capacitação, atendimentos domiciliares, centros-dia, benefícios sociais, linhas de escuta e acolhimento. O Brasil tem caminhado lentamente nessa direção e ainda estamos longe do ideal.

A você, cuidador, o meu mais profundo respeito.

Você faz parte de uma linha de frente silenciosa, que luta todos os dias contra o esquecimento. Você segura a dignidade de quem já começa a esquecê-la. Você é a memória ativa de quem perdeu as próprias lembranças. Você merece mais que palavras bonitas. Você merece suporte, descanso, afeto, valorização.

E a você, leitor, que tem alguém na família nessa função: não se omita. Visite. Reveze. Pergunte como está. Ofereça ajuda. Um simples gesto pode evitar um colapso. Cuidar de quem cuida é cuidar da saúde de todos.

E no Alzheimer, em que o tempo apaga memórias, é preciso que a nossa memória coletiva preserve o valor e a dignidade de quem cuida com amor, presença e respeito. Que nunca nos esqueçamos de quem nunca desistiu de estar presente. Com carinho boa semana a todos.

*Nosso próximo encontro será no Grupo de Terceira Idade no dia 11 de junho, às 14h, na Igreja Imaculado Coração de Maria – Rua Zeferino Vaz, 430 - Vila Piza, Limeira, SP. Vamos construir uma cidade onde cada memória seja valorizada. Conto com vocês, tenham todos uma boa semana!

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