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Idoso ao Volante: o direito de ir e vir com segurança e consciência

Queridos leitores, a possibilidade de dirigir representa para muitos idosos muito mais do que locomoção. É sinônimo de liberdade, autonomia e autoestima. No entanto, com o passar dos anos, é natural que ocorra um declínio progressivo de algumas funções cognitivas, motoras e sensoriais, fatores que podem comprometer a segurança ao volante. 


Doutor, o que diz a legislação brasileira?


De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), não há uma idade máxima para dirigir. A legislação é clara ao estabelecer que o critério para manter o direito à habilitação é a aptidão física e mental. Para motoristas com 70 anos ou mais, o exame médico deve ser renovado a cada 3 anos (em alguns estados, esse prazo pode ser reduzido a critério do médico perito ou do Detran local).

O Detran não proíbe idosos de dirigir, mas exige que passem por avaliações periódicas que atestem suas condições físicas e mentais para o exercício da direção. Envelhecer é um processo natural que exige adaptações.

Com o envelhecimento, pode haver redução nos reflexos e no tempo de resposta; diminuição da acuidade visual, especialmente à noite; alterações na audição; limitações motoras, como rigidez articular e redução da força muscular; mais dificuldade para lidar com situações de estresse ou multitarefas, como mudanças repentinas no trânsito.

Esses fatores não invalidam a capacidade de dirigir, mas exigem mais atenção e, em alguns casos, uma reavaliação honesta sobre os riscos que o idoso pode estar expondo a si mesmo e a terceiros. 


Doutor, e como fica o papel da família e dos profissionais de saúde?

É essencial que os familiares saibam abordar o assunto com respeito e sensibilidade. Dizer a um pai ou avô que talvez seja hora de parar de dirigir pode ser recebido como uma afronta à sua autonomia. Mas, quando essa conversa é conduzida com empatia e baseada em fatos, como episódios de desatenção, pequenos acidentes ou dificuldade para se orientar no trânsito, ela tende a surtir efeitos mais positivos.

Como médico, percebo que essa decisão, por mais difícil que seja, pode ser um divisor de águas entre preservar a vida ou colocá-la em risco. Não se trata de “tirar um direito”, mas de evitar um sofrimento maior no futuro.

Particularmente, eu mesmo optei por evitar o estresse da direção no dia a dia. Uso com frequência o transporte por aplicativo, como o Uber, especialmente em compromissos urbanos mais corridos ou em horários de mais trânsito. Já aos fins de semana, quando a cidade está mais tranquila, costumo usar o carro para atividades mais leves. Essa escolha tem sido benéfica para minha rotina e para minha paz.

Abandonar o volante não significa abrir mão da independência. Existem alternativas como transporte por aplicativos, caronas solidárias, transporte público adaptado ou serviços oferecidos por redes de apoio. Incentivar o idoso a manter uma rotina ativa, mesmo sem dirigir, é fundamental para evitar o isolamento e a depressão. 

Idosos têm direito de ir e vir com dignidade, mas também têm o dever de proteger a própria vida e a dos outros. A decisão de deixar de dirigir deve ser feita de forma individualizada, consciente e orientada, levando em conta não só a idade, mas, principalmente, a capacidade funcional. Afinal, o verdadeiro cuidado começa quando somos capazes de reconhecer nossos limites – e isso, longe de ser fraqueza, é sabedoria. Tenham todos uma boa semana!

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