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Ortognática é vida

Queridos e amados leitores,

A ortognática é uma cirurgia orofacial que tem intuito de corrigir as deformidades da face, melhorar a mordida, dicção, postura e chega até aliviar dores musculares, nas costas e o pisar corretamente após realizada. Este procedimento é realizado por um dentista com especialização em Bucomaxilofacial em hospital com anestesia geral, porque em poucas palavras, quebra-se os ossos da maxila e mandíbula para colocá-los no lugar, só que sem disfunção.

O bem-estar comparado a estética é apenas um detalhe, diante de uma funcionalidade ampla na garantia da saúde. Um processo que leva um tempo de preparação, o paciente passa por vários procedimentos, como o uso de aparelho ortodôntico para alinhar os dentes por alguns anos, extração de sisos ou dentes dentro do planejamento realizado pelo ortodontista, radiografias, tomografia, análise de um bucomaxilo que monta um planejamento para então operar o paciente. Este, também realiza um checap completo, pois em toda cirurgia, há riscos e prevê-los é de suma importância para garantir que o paciente tenha êxito.

Após o processo operatório vem a recuperação, no qual inclui-se dieta líquida por um tempo aproximado ou superior a 20 a 30 dias, depois alimentação pastosa pela média de mais 30 a 45 dias. Alguns pacientes levam 90 dias para voltar a mastigar alimentos sólidos como a carne. Outros 6 meses.

Como relatei acima, em Limeira há vários profissionais capacitados para a realização deste procedimento, o fato, é que de um tempo para cá, os hospitais da cidade fizeram parceria com a FOP (Faculdade de Odontologia de Piracicaba) que se tornou conveniada tendo o Dr. Márcio de Moraes à frente. Isso para hospitais particulares como a Hap Vida, mas pacientes pelo SUS também são atendidos neste mesmo processo. Não seria algo ruim, se a operadora não obrigasse os pacientes a operarem apenas com seu único profissional, ou seja, uma conveniada que aproveita a mão de obra feita por estudantes da Universidade. Algo que também não seria um problema, se o responsável em questão, acompanhasse os estudantes nos procedimentos pré-cirúrgicos, o que não acontece.

O meu relato não tem intuito de denegrir a imagem de ninguém, mas apresentar o que está acontecendo em Limeira, para que ninguém mais passe pelo que eu passei, pois o sentimento é de ser tratada como um rato de laboratório.  

Como citei lá em cima, em 2017 fiz uma cirurgia pela antiga Medical e com a então conveniada. Foram inúmeras consultas com alunos na Universidade para operar em Limeira. Tudo parecia normal. O planejamento realizado tinha como intuito operar 80% do meu problema, com a promessa de operar 20% posteriormente num procedimento mais simples. Me recordo de questionar se não poderia ser feito tudo de uma vez, mas o relato era que não.

Preparatório com o aparelho ortodôntico feito em 4 anos, fios cirúrgicos, medidas, molde, tudo caminhando bem. Depois de tudo pronto, para a minha surpresa, dois dias antes da cirurgia, a aluna, dra. Carolina me chamou até o consultório do hospital relatando que seu professor pediu para refazer tudo porque algo não estava bem. Questionei se ele não deveria acompanhar, mas a resposta foi que era sábado e ele não viria. No dia da cirurgia, estávamos lá. E me recordo de dentro do centro cirúrgico, ver papeis indo ao chão. Apaguei e acordei horas depois operada.

Segundo a minha família, a cirurgia havia sido um sucesso. Mas dias depois, meses depois, em consultas, sob dores inúmeras em consultório e em casa para colocar os elásticos, foi constatado que embora tivesse melhorado, meu problema não foi corrigido. Sim, 3 cirurgiões bucomaxilo constataram que eu precisava de um novo procedimento para então, concluir aqueles 20% do meu tratamento.

Optei por um profissional da minha confiança e não mais o que havia me atendido. O hospital Hapvida recusou o pedido, alegando que eu deveria operar de novo com o profissional da conveniada ou me dirigir às cidades como Araraquara ou Ribeirão Preto. Questionei a razão de eu ir para tão longe de Limeira, se aqui temos o Hospital e há profissionais capacitados, porque afinal, são pelo menos 8 consultas até que tudo esteja pronto. Não me deram nenhuma outra opção, então aceitei ser atendida novamente pelo profissional deles que acabou me encaminhando para Piracicaba.

Imaginem vocês, queridos leitores... 2 tomografias, 6 consultas pelas quais deixei de almoçar várias vezes, deixando minhas obrigações no trabalho para ir até outra cidade. Fui atendida por um aluno que fez o planejamento e após assinado pelo responsável, me informou como seria o novo procedimento. E quais exames pré-operatórios eu deveria fazer. Expliquei que devido ao meu trabalho, eu precisava operar nas férias ou depois das eleições em outubro. A resposta é que não haveria problema, só me cabia notificar.

Neste tempo fiz academia, procurei a nutróloga, me preparei emocionalmente para a cirurgia combinando uma boa alimentação com as ações cotidianas. Mas em outubro de 2024 ao retornar, o aluno que me atendeu havia se formado, a nova aluna responsável por manter diálogo entre o professor e paciente, me dizia que “estavam em reunião”, “não tinham data para atender”, “seu professor se afastaria por questões de saúde”, e quando me chamaram para conversar, fui notificada que todo o planejamento feito anteriormente, havia sido cancelado. Questionei por que haveriam de mudar tudo se o planejamento já havia sido dado 1 ano antes, como resposta, ouvi que a nova aluna havia feito um novo planejamento. Era aceitar ou procurar um cirurgião plástico!

Eu não tinha para onde correr, aceitei e ficou combinado de dar andamento com a proposta atualizada, fui para casa com os pedidos de exames pré-operatórios, neste período todo, a telefonista do plano de saúde me ligou cerca de 20 vezes perguntando se eu já tinha uma data da cirurgia, porque ela precisava registrar no sistema dela e o dr. Márcio, responsável da conveniada não atendia. Até que recebi uma ligação dizendo que a cirurgia que tinha sido marcada (Sem eu ser avisada) e depois cancelada. E eu deveria começar todo o procedimento preparatório com um outro bucomaxilo em Campinas.

Ou seja, quase 2 anos de planejamento jogados no lixo, tempo, dinheiro, combustível, pedágio, sem almoço, pagando horas aos sábados, espera e mais espera para não receber nem uma ligação do profissional responsável, explicando que haveria de cancelar.

Ao procurar o hospital Hapvida, não pude ser atendida, porque não há um assistente social, um balconista, ninguém que possa atender os pacientes. Tudo que dizem é: “Procure o SAC”. Ao ligar no SAC, não há a possibilidade de telefonema. É preciso escrever e sob uma burocracia sem precedentes, com questionários inúmeros que com certeza foram pensados para dificultar a vida de quem necessita. Um estresse desmedido para resolver algo que deveria ser do meu direito e do direito de tantos, idosos, mulheres, pais com crianças especiais...

Em contato com o Comitê de Ética da Unicamp na Faculdade de Odontologia de Piracicaba fui muito bem atendida, mas adivinhem só? O Comitê de ética existente não pode inferir em questões que estão diretamente ligados com a clínica. Ou seja, os alunos podem continuar indo ao hospital, conduzir planejamento e ações sem a supervisão do professor responsável e está tudo bem. Se o único Bucomaxilo da Hapvida não quiser operar os pacientes, como não quis no meu caso, eu e outros pacientes temos que nos dirigir a outras cidades e buscar quem queira.

O fato, é que em Limeira existem inúmeros profissionais capacitados, mas são impedidos que atuar nos hospitais da cidade porque não podem ser da conveniada. É claro que o conhecimento científico forma novo profissionais, mas devemos ser tratados como ratos de laboratórios, onde há investimento federal para os estudos, além de tempo, dinheiro, exposição a vários exames e quando tudo está pronto, ver cancelado sem uma mísera explicação?

Até quando o Hospital Hap vida vai tratar o povo de Limeira com essa falta de respeito? Até quando seremos tratados com falta de responsabilidade e de humanidade? Por qual razão outros planos médicos de Limeira, também estão adotando essa política de manter apenas 1 bucomaxilo para atender seus pacientes, o que impede de dar opção de operar com outros profissionais? Sim, porque já investiguei a possibilidade e se eu procurasse outros planos da cidade para resolver o meu problema, cairia na mesma situação.

Se há inúmeros ginecologistas, cardiologistas, urologistas, pediatras, por qual razão não ampliar a quantidade de profissionais em áreas mais específicas como a cirurgia Bucomaxilofacial? Por que obrigar os limeirenses a saírem de Limeira e irem para outras cidades quando temos hospitais e profissionais de capacitados aqui? Por qual razão não facilitam o diálogo e atuam sem se importar com o estresse causado aos trabalhadores que pagam o plano corretamente? Será que sabem o quanto a atitude e descaso maltrata quem só quer buscar na saúde, soluções para seus problemas?

Uma cirurgia ortognática tem a finalidade de melhorar a qualidade de vida dos pacientes.  Vai muito além de estética e não pode ser substituída por cirurgia plástica quando as disfunções são ósseas e prejudicam outras partes do corpo. Não podemos ser tratados como ratos de laboratório por quem não está disposto a resolver os problemas, ou ter planejamentos apresentados aos pacientes, e modificados quando entra um novo aluno.

Embora os profissionais da medicina estejam acostumados a lidar com situações distintas todos os dias, os pacientes vivenciam a situação apenas uma vez, o que gera medo, expectativa e ansiedade. Sem contar a construção da confiança, que é feita em cada consulta. O paciente se envolve emocionalmente, e muitas vezes desiste de vivenciar outras situações porque há o compromisso de fazer o que precisa ser feito.

Ortognática é vida, por favor, parem de tratar as pessoas como ratos de laboratório.

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