O Beijo da Mulher-Aranha
Por Farid Zaine
@farid.cultura
farid.cultura@uol.com.br
Desde que li o romance “O Beijo da Mulher-Aranha”, do
escritor argentino Manuel Puig, fiquei fascinado pela história: durante a
ditadura militar argentina, um preso político, Valentin, vai para a cadeia,
na mesma cela em que está um homossexual
condenado por corrupção de menores, Molina. De cara o antagonismo entre os dois
é muito forte; aos poucos, contudo, no ambiente tóxico da prisão, Molina
consegue mascarar o horror do lugar contando histórias de filmes para o
companheiro de cela, que a princípio reluta em ouvir, mas depois acaba
aceitando. O livro é extraordinário. Era inevitável que viesse para o cinema, e
isso aconteceu através do cineasta argentino naturalizado brasileiro, Hector
Babenco. Babenco, com o roteiro adaptado por Leonard Schrader, trazendo a trama
para a ditadura militar brasileira, foi fiel ao livro, e o trabalho final
resultou num filme brilhante, indicado a 4 Oscars em 1986: Melhor Filme, Melhor
Diretor, Melhor Ator e Melhor Roteiro Adaptado. O Oscar de Melhor,
merecidamente, foi para William Hurt, o intérprete de Molina, concorrendo com
grandes nomes como Jon Voigt, Jack Nicholson, James Garner e Harrison Ford. Raul
Julia foi o intérprete de Valentin, e a grande estrela dos filmes narrados por
Molina, Aurora, foi interpretada por
Sônia Braga, deslumbrante.
Como o livro e o filme fizeram muito sucesso, ganhando
notoriedade pelos prêmios e críticas positivas, era inevitável também que a
obra virasse um musical da Broadway, tendo passado por Toronto, no Canadá, e no
West End, em Londres. John Kander e Fred Webb escreveram o musical, que foi
vencedor de muitos prêmios. Vi “O Beijo da Mulher-Aranha” em Buenos Aires, com
a grande Chita Rivera, no Teatro Lola Membrives, com uma iluminação espetacular
que, em determinado momento, envolvia a plateia toda numa grande teia de
aranha. Depois vi o espetáculo no Brasil, com Cláudia Raia interpretando
Aurora, Miguel Falabella como Molina e Tuca Andrada como Valentin, com direção
de Wolf Maia. O musical é belíssimo, com momentos de grande emoção .
Chegou, então, a vez do musical vir para o cinema, chegando
aos cinemas brasileiros no mês de janeiro de 2026. Quem dirige essa versão é
Bill Condon, e o sofisticado papel de Aurora ficou com Jennifer Lopez. Molina
agora é interpretado por Tonatiuh e Valentin por Diego Luna. Vi “O Beijo da
Mulher-Aranha” antecipadamente, numa sessão da Mostra Internacional de Cinema
de São Paulo, no dia 30 de outubro, no Cinesala, em Pinheiros. Cinema lotado
por um público que, na maioria, já havia acompanhado a trajetória da história
criada por Manuel Puig.
O musical de Condon é muito bom, mas o filme fica aquém da versão
de Babenco, filmada em São Paulo, e com adaptação da história para a ditadura
brasileira. Fica aquém também das versões musicais que vi nos palcos de Buenos
Aires e São Paulo. Contudo, principalmente para quem vai mergulhar no universo
de Puig pela primeira vez, o longa cumpre sua função: mostra a história
dramática vivida pelas personagens, reflexo do mundo real cruel gerado nas
ditaduras da América do Sul, e cuida da parte musical com esmero visual e belas
coreografias. Há referência claras a clássicos do gênero.
Não há muita expectativa de indicações dessa versão musical
de “O Beijo da Mulher-Aranha” na edição de 2026 do Oscar. Fica, contudo, desde
já, a indicação para que seja visto. Sempre é muito bom que uma obra literária
como essa, que já ganhou versões nas telas e nos palcos, volte e conquiste
novos públicos. Olhos atentos para as estreias de janeiro de 2026.
O Beijo da Mulher-Aranha (The Kiss of the Spider Woman, EUA,
2025) – musical dirigido por Bill Condon, com Jennifer Lopez. Estreia nos cinemas
brasileiros em janeiro de 2026.
Cotação: ****MUITO BOM
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