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Paliatividade: até quando tratar?

“Entre a cura e o cuidado, há um espaço chamado humanidade”

Queridos leitores, o tema desta semana atende ao pedido de uma leitora. Ela me escreveu relatando a angústia de acompanhar o esposo portador de Parkinson e Alzheimer em estágio avançado. A dúvida dela é a mesma de tantas outras famílias. A aflição consiste em saber até quando insistir no tratamento. 

“Doutor, até quando tratar?”

Quando o tratamento deixa de prolongar a vida e passa apenas a prolongar o sofrimento, é hora de repensar os caminhos e as prioridades do cuidado.

A medicina moderna evoluiu muito em recursos tecnológicos, terapias e drogas capazes de adiar o avanço das doenças. No entanto, há situações em que o foco precisa mudar, do prolongamento da vida para a qualidade do tempo vivido. É nesse ponto que entram os cuidados paliativos, uma área que, longe de representar desistência, simboliza o mais alto grau de respeito ao paciente e à sua dignidade.

A realidade se impõe, especialmente entre pacientes com demência avançada ou com certos tipos de câncer em estágios terminais. Nesses casos, a linha entre tratar e insistir torna-se tênue. Manter medicações agressivas, internações repetidas e procedimentos invasivos, muitas vezes, apenas amplia o sofrimento físico e emocional, sem oferecer reais benefícios.

Um dos maiores desafios está em conversar abertamente com o paciente. Sempre que possível, ele precisa ser informado sobre seu diagnóstico e sobre o que a doença lhe reserva. É fundamental ouvir o protagonista principal dessa história: o próprio paciente. Suas vontades, seus medos e seus limites devem ser respeitados. A medicina não é apenas decisão técnica. É também escuta, acolhimento e empatia.

O início dessa conversa não deve acontecer no desespero, nem na iminência do fim. Pelo contrário: deve começar quando ainda há lucidez, diálogo e possibilidade de escolha. É nesse momento que o paciente e a família podem compreender que a medicina não abandona, ela apenas muda de direção.

Falar sobre o fim da vida ainda é um tabu. Mas silenciar esse diálogo é privar o paciente e seus familiares do direito de viver esse tempo com menos dor, mais amor e serenidade.

Paliar é cuidar. É olhar para o paciente como um todo, corpo, mente e espírito, e compreender que nem sempre é possível curar, mas sempre é possível aliviar, confortar e estar presente. Porque cuidar, até o último instante, é a forma mais bonita de continuar amando.

Para encerrar agradeço a leitora que gentilmente autorizou o compartilhamento de sua história de forma anônima e trouxe à tona esse tema tão importante. Seu gesto sensibilizou e inspirou esta reflexão sobre o verdadeiro sentido do cuidar. Tenham todos uma boa semana.

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