
Ministério Público tem audiência com representantes da 99 sobre crimes sexuais
O Ministério Público de São Paulo realiza no próximo dia 25
uma audiência com representantes da 99, um dos maiores aplicativos de
transporte do Brasil, para discutir medidas de combate aos crimes sexuais, como
estupros e assédio. A reunião decorre da instauração, pela Promotoria de
Justiça do Consumidor, de um inquérito civil sobre o tema.
A UBER, outra gigante do setor, também é investigada em
outro procedimento, mas ainda não há um encontro agendado entre seus
representantes e os promotores que conduzem a investigação. A expectativa é de
que seja proposto um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) para que essas
plataformas criem ferramentas dentro de seus APPs para inibir a ação de
abusadores.
Os dois procedimentos foram instaurados depois que uma adolescente
que usava o serviço da 99 denunciou um motorista parceiro por abuso.
Em abril deste ano, em Ribeirão Preto (SP), uma jovem de 16
anos acusou um motociclista da UBER por estupro. A viagem dela era acompanhada
pela mãe, que notou uma parada não programada no percurso. Ao questionar o
motorista, ele afirmou que a menina estava “passando mal”.
De acordo com a adolescente, que tem orientação sexual
homoafetiva, o motociclista a levou para uma área de mata, na região leste da
cidade, onde a obrigou a praticar sexo oral, apalpou seus seios e sua
genitália. Ele teria tentado forçar uma penetração, mas ela resistiu.
Inconformado, o motociclista teria forçado a penetração tanto vaginal quanto
anal. Depois disso, segundo a vítima, ele subiu na motocicleta e deixou o
local.
“As portarias de instauração destacam que o transporte
público por aplicativos, mesmo sendo um serviço de intermediação, possui
obrigação de garantir a segurança do usuário, com base no Código de Defesa do
Consumidor”, informou o MP-SP quando as investigações tiveram início.
As duas empresas foram intimadas a informar se são
realizadas gravações de áudio e ou vídeo das corridas, assim como quais os
critérios utilizados para admissão de motoristas parceiros, incluindo análise
de antecedentes criminais.
Para Sandro Christovam Bearare, especialista em segurança,
pós-graduado em Perícias Criminais e Ciências Forenses, a investigação do MP
representa uma oportunidade de jogar luz sobre a falta de segurança no
transporte por aplicativo no Brasil.
"É preciso adotar uma política integrada de prevenção,
monitoramento e resposta rápida, baseada em tecnologia, formação e
responsabilização. A tecnologia já
permite geofencing, rastreamento por inteligência artificial e auditoria de
comportamento em tempo real", explica Bearare.
Entre as ações que poderiam ser implantadas com urgência
pelas plataformas, o especialista destaca:
- Georreferenciamento inteligente com zonas de risco: Ao
adentrar regiões previamente mapeadas como áreas de risco, o aplicativo deveria
acionar automaticamente um protocolo de monitoramento reforçado.
- Botão de pânico com ativação silenciosa e resposta
validada: Permitiria que a vítima acionasse socorro sem alertar o agressor, com
validação automática da localização e envio para autoridades ou pessoa de
confiança.
- Monitoramento de paradas não autorizadas: Qualquer parada
fora do trajeto previsto, especialmente em locais ermos, deveria ser verificada
automaticamente por IA com alerta imediato ao suporte da plataforma e à vítima.
- Áudio ambiente ativado por palavra-chave de emergência:
Ferramenta que pode capturar áudio mediante palavras-chave configuradas pelo
usuário ou sons de conflito.
- Revisão rigorosa dos critérios de admissão de motoristas:
Exigência de checagem contínua de antecedentes e validação psicológica
periódica, principalmente para quem atua no transporte de menores ou público
vulnerável.
"Com vasta experiência em perícias e segurança de
campo, reforço que não basta lamentar os casos já ocorridos. É dever das
empresas tratar cada corrida como uma missão de integridade. A falha não está
apenas no criminoso, mas na ausência de um ecossistema tecnológico de
contenção", conclui Bearare.
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