
Dia dos professores: a jornada da professora Marta
Neste 15 de outubro, quando o Brasil celebra o Dia dos
Professores, a Gazeta de Limeira presta homenagem àqueles que dedicam suas
vidas a ensinar, transformar e inspirar. Apresentamos nesta edição especial a
história de uma mulher que representa milhares de professores do país: Marta
Maria Mascarin, moradora de Cordeirópolis, que completou este ano três décadas
de dedicação à sala de aula. Mais do que números ou datas, sua história é feita
de escolhas movidas por amor, desafios vencidos com fé e um compromisso
inabalável com a Educação. Aos 65 anos, Marta é o retrato da força silenciosa
que habita muitos educadores brasileiros. “Acredito que é através da Educação
que transformamos a vida das pessoas”, resume com firmeza, na mesma frase que
define toda a sua trajetória.
Marta conta à Gazeta que desde pequena sabia que queria ensinar. A vocação nasceu antes mesmo da formação. “Sempre me senti educadora, mas percebia que me faltava embasamento teórico para defender os meus princípios pedagógicos”. Assim, em 1995, formou-se em Pedagogia, unindo à sua sensibilidade o conhecimento necessário para atuar com propriedade na sala de aula. A partir disso, viveu experiências marcantes no Ensino Fundamental II, na Escola Estadual Prof. Odecio Lucke, onde ministrou aulas de Geografia, Português e Inglês. “Foi uma experiência riquíssima, onde aprendi muito mais do que ensinei. Conheci os bastidores da escola e senti a energia exigente de uma sala cheia de adolescentes. ”
Marta não gosta de rótulos. Prefere reinventá-los. Portadora de poliomielite desde os 13 meses de vida, ela se autodeclara uma PCD – Pessoa Com Diferença, não com pesar, mas com orgulho de quem trilhou um caminho de superações. Estudou em escolas públicas ao lado dos irmãos e, embora enfrentasse dificuldades para se locomover, encontrou apoio de pessoas que guarda na memória com carinho: “Seu Antônio Gambaroto e João Barrocas me carregavam no colo até a sala de aula. Nunca me esquecerei”. As professoras, por sua vez, sempre a trataram como igual, incentivando sua autonomia. A infância, embora marcada por limitações físicas, também foi o alicerce da força que hoje transborda em suas palavras e ações. “Sofria muito por não poder correr e muitas vezes brincar como as outras crianças, mas esse sofrimento se transformou em força para continuar estudando e ‘ser’ alguém na vida. Tive que enfrentar São Paulo para ter assegurada a minha CNH, por isso esse sofrimento virou força. Jamais deixei que a deficiência fosse maior do que minha vontade”.
Além de educadora, Marta é também comerciante (atuou por 19 anos no setor). Esportista dedicada, neste mês de outubro, participou com entusiasmo do Campeonato de Paraciclismo de Cordeirópolis. “Faltava uma competição física no meu currículo”, brinca, com o bom humor que a acompanha mesmo nas adversidades. Sua frase favorita é um lembrete diário: “Não devemos nos limitar por medo, porque só ele pode realmente nos paralisar”.
Com três décadas de experiência no magistério, Marta enxerga com clareza os desafios da Educação no Brasil. “Infelizmente, o que não mudam são as salas de aula”, afirma. Para ela, as transformações educacionais ainda são pouco dialogadas com quem está na linha de frente: o professor. “As leis chegam como susto. Os projetos nascem de cima para baixo, e nós, que estamos na ponta, somos deixados de fora da construção. Isso mina a confiança nos pares e esvazia a participação dos professores”.
Marta também critica o que chama de "educação no papel", em referência às políticas de inclusão que, segundo ela, não preparam devidamente as escolas para receber alunos com necessidades específicas. “Hoje vivemos a Educação da Inclusão, mas me pergunto: por que não prepararam a festa antes de chamar os convidados?”, relata.
Católica, devota de São João Paulo II, Santa Teresa de Calcutá e
Santa Dulce dos Pobres, Marta se define como uma mulher “humana e apaixonada
pela vida”. Seu amor pelo cotidiano se revela nos detalhes: “Gosto de sentir o
vento no rosto durante os passeios de handbike, adoro meus três gatinhos, me
realizo vendo meus vasos florirem e me sinto feliz quando estou com meus amigos
celebrando a vida.”
Ao ser questionada sobre qual mensagem deixaria para os novos educadores, Marta não hesita: “Venham com vontade de transformar, de sorrir com os alunos, de aprender com eles. Unam-se, não desistam. E lembrem-se: nosso único e maior objetivo na escola é o aluno, o resto é consequência”. Em sua fala, ela também faz um apelo por dignidade:
“Professor não trabalha de graça ou por amor. Para ter salário digno, é preciso produzir dignidade no que se faz”.
Celebrar o Dia dos Professores com a história de Marta Maria Mascarin é mais do que homenagear uma educadora: é reconhecer a grandeza de quem faz da sala de aula um espaço de amor, resistência e fé. Ao final da entrevista, fica o ensinamento mais poderoso: “Educar é resistir. É não se render ao cansaço, é acreditar no ser humano todos os dias, mesmo quando tudo parece dizer o contrário.
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