Limeira registra 782 afastamentos de professores por saúde mental
Os afastamentos por motivos relacionados
à saúde mental entre servidores da educação do Estado de São Paulo aumentaram,
e em Limeira não é diferente, no município houve uma alta de mais de 20% em
2024, segundo dados fornecidos pela Divisão de Medicina Ocupacional e Segurança
do Trabalho. Um levantamento solicitado pela
Gazeta de Limeira
ao CPP-SP registrou 782 afastamentos, contra 647 do ano anterior.
Os
monitores continuam como o grupo mais afetado, com 246 afastamentos (222 em
2023). Auxiliares de serviços gerais somaram 127 casos (109 um ano antes).
Entre os docentes, foram 65 afastamentos no ensino fundamental e 65 na educação
infantil. Em 2023, esses grupos registraram 65 e 42, respectivamente. A Região
administrativa abrange cidades como Limeira, Rio Claro, Artur Nogueira,
Engenheiro Coelho, Cosmópolis, Cordeirópolis, Ipeúna, Santa Gertrudes e
Iracemápolis, contabilizou 5.533 afastamentos em 2024 e 3.356 em 2025.
Segundo o Centro do Professorado
Paulista, entre janeiro e setembro, o Estado de São Paulo registrou 25.699
licenças relacionadas a transtornos mentais e comportamentais, totalizando 911.634
dias fora das salas de aula. A média estadual chegou a 95 afastamentos diários.
A capital acumulou 13.534 licenças e a região de Campinas superou 3.500. Os
dados foram obtidos pelo CPP com base em informações da DPME via Lei de Acesso
à Informação.
Em depoimento, o diretor-geral administrativo do CPP, Alessandro Soares,
afirma: “Esses números são um
grito de alerta. O professor está adoecendo a cada dia. São jornadas longas,
múltiplas escolas, violência, desvalorização e cobrança constante. ”
Ele acrescenta: “Por que isso preocupa muito a gente? Gera muito custo para a educação.
Se o Governo investisse na prevenção, traria economia e teria um professor
saudável para dar aulas.”
Soares conclui: “O sofrimento
emocional dos professores é estrutural. Ele nasce da precarização e da solidão
no trabalho docente. Não há cuidado psicológico suficiente, nem tempo para o
professor cuidar de si. Por isso, é de suma importância a ampliação do suporte
psicológico aos profissionais da educação, uma vez que a manutenção desse
cenário compromete não apenas o bem-estar dos professores, mas também a qualidade
do ensino e o futuro dos estudantes. ”
A Gazeta de Limeira também ouviu o coordenador da E.E. Castello Branco, professor
Berga, descreve fatores que influenciam o adoecimento de profissionais: “O esgotamento físico e mental de
professores resulta da combinação de vários fatores: excesso de trabalho, altas
demandas pedagógicas e burocráticas, poucos recursos na escola pública, tarefas
repetitivas, salas superlotadas e indisciplina dos alunos. Soma-se a isso a
falta de apoio familiar, muitas vezes hostil e a baixa remuneração, que leva
muitos docentes a trabalhar em várias escolas e cumprir longas jornadas,
incluindo preparo de aulas e correções. Nesse contexto, manter o equilíbrio
emocional torna-se difícil. ”
O professor também aborda o papel do Estado: “Não basta impor metas e plataformas digitais
sem oferecer infraestrutura, suporte técnico e tempo adequado. A rotatividade
aumenta e prejudica a continuidade do trabalho pedagógico. É necessário rever a
carga de trabalho, valorizar o docente e fortalecer sua identidade profissional. ”
Ele detalha medidas adotadas pela equipe gestora: “Criamos espaços de
escuta, apoio e bem-estar. Fizemos parceria com o Senac para sessões de
massoterapia, promovemos palestras sobre autocuidado e valorizamos práticas simples,
como celebrar aniversariantes. Momentos de diálogo nas formações ajudam a
construir soluções coletivas. Embora seja desafiador, essas iniciativas trazem
resultados ao longo do tempo. ”
Uma professora da rede estadual,
pediu para não ser identificada, relatou à Gazeta "Depois de 17 anos na
rede estadual, cheguei ao limite. Desenvolvi síndrome do pânico, algo que nunca
pensei enfrentar, e tudo se agravou nos últimos dois anos lecionando. A
indisciplina aumentou, alguns alunos tiveram rendimento ruim e, quando isso
aconteceu, os pais, para mim, a parte mais difícil de lidar, passaram a me
pressionar, criticar e até ameaçar. Houve até situações de espionagem dentro da
escola. Mesmo após 21 dias de afastamento médico, voltei sem conseguir me
recuperar. Senti que não era a mesma para continuar. Com muita dor, pedi
exoneração para Secretaria Estadual de Educação” pontuou.
O conjunto dos dados evidencia
avanço dos afastamentos em Limeira e reforça impacto regional e estadual. O
cenário atinge múltiplos setores da educação e interfere na continuidade
pedagógica, no funcionamento das escolas e na saúde dos trabalhadores.
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