
Douglas Marchione traz talento em confeitaria de volta a Limeira
Limeira tem um novo motivo para celebrar, e ele vem em forma de bolos espetaculares. Douglas Marchione, limeirense que conquistou paladares e olhares em Brasília e além, está de volta. Aos 52 anos, após três décadas distante, ele retorna não apenas como filho da terra, mas como um renomado cake designer, trazendo na bagagem 12 anos de experiência, milhares de alunos formados e um portfólio de criações que são verdadeiras obras de arte comestíveis. Em entrevista exclusiva à Gazeta, Douglas compartilhou sua trajetória, os desafios da confeitaria e a alegria de reestabelecer suas raízes.
"Estou fora de Limeira há 30 anos, mas minha família toda é daqui. Sempre estive presente de alguma forma, mas agora volto como cidadão limeirense", conta Douglas, cujo percurso profissional é tão rico e multifacetado quanto seus bolos. A decisão de retornar foi amadurecida. "Chega uma hora que você fica mais velho, tem vontade de estar perto da família. Tenho pai, mãe, irmãos, sobrinhos aqui. Nunca consegui fazer um bolo para nenhuma comemoração deles", revela, explicando a motivação por trás da mudança planejada ao longo de um ano, que culminou na construção de sua nova casa e ateliê na cidade.
A jornada de Douglas até se tornar referência em bolos personalizados não foi linear. Inicialmente, sua paixão era a gastronomia como um todo. Após 15 anos em Campinas, aos 40, decidiu mudar-se para Brasília e cursar Gastronomia no Centro Universitário IESB. Foi lá que a confeitaria começou a ganhar espaço. "Sempre gostei de bolo, sempre achei muito bonito a confeitaria, mas não era meu foco inicial", admite. Um conselho de um professor, no entanto, mudou seu rumo: "Ele me disse: 'Douglas, quer ganhar dinheiro? Quer fazer sucesso? Abre qualquer portinha e começa a vender seus bolos. Não vá trabalhar para os outros em cozinhas de restaurantes, não é muito valorizado'."
O início foi desafiador. "Comecei a fazer bolos em casa, morava num apartamento. Meus bolos eram muito ruins no começo", confessa com bom humor. A faculdade, focada na confeitaria clássica francesa, não era exatamente o que ele buscava. "Eu queria fazer bolos diferentes. Na época, estava surgindo o Buddy Valastro [CakeBoss]. Pensei: 'Que legal o programa dele, vou pesquisar'." A busca por um diferencial o levou a uma técnica que se tornaria sua assinatura: a pintura com aerógrafo.
"Vi um vídeo de uma menina pintando um bolo com aerógrafo. Fiquei encantado. Pensei: 'Já que vou entrar num mercado em Brasília onde não conhecia ninguém, tenho que entrar com algo diferente para as pessoas olharem para mim'", recorda. Ele comprou o aparelho, mesmo sem saber direito como usar, e começou a praticar. "Comecei a rabiscar parede, papel, bolo... Meus bolos eram muito feios, mas tinham essa pintura." A técnica, aliada à sua vocação para o desenho – Douglas também tem formação em Desenho Industrial –, rapidamente chamou atenção.
"As pessoas começaram a perguntar sobre a pintura, o degradê. Isso começou a me destacar", diz. A demanda cresceu, e a qualidade acompanhou. "A gente vai melhorando acabamento, textura, recheio. É prática. As técnicas também mudaram muito. Antigamente, usávamos doce de leite para cobrir bolos de pasta americana, e eles estufavam. Hoje, usamos ganache, fazemos blindagem, os bolos são estruturados, deliciosos. Dá para usar massas super fofas, recheios úmidos. Você olha e parece isopor, mas é bolo de verdade", explica, desmistificando a antiga fama de que bolos decorados não eram saborosos.
O sucesso com os bolos pintados não apenas impulsionou as vendas, mas abriu outra porta: o ensino. "As pessoas começaram a pedir aula sobre essa pintura. Cresci muito rápido em Brasília, não só como confeiteiro, mas também dando aula." Sua expertise com o aerógrafo o levou a uma parceria com a fabricante nacional do equipamento. "Eles viram minha visibilidade, todo mundo queria comprar o aerógrafo por minha causa. Hoje, sou garoto propaganda deles, o que é uma honra", celebra.
Em Brasília, Douglas montou seu primeiro ateliê com apenas R$ 12 mil. "Foi uma loucura abrir um espaço comercial com dois ou três bolos por semana. No começo, a preocupação era pagar o aluguel. Quando vi, as coisas estavam acontecendo." O negócio prosperou, ele mudou para um espaço maior, contratou equipe. Veio a pandemia, um período desafiador, mas que também trouxe aprendizados. "Percebi que podia continuar vendendo sem um espaço físico tão grande. As pessoas hoje encomendam pelo WhatsApp, reuniões são online." Isso o encorajou a comprar uma casa e montar o ateliê nela, modelo que replica agora em Limeira.
O retorno à cidade natal marca um novo capítulo. O ateliê já está pronto, e Douglas está animado para atender o mercado local e regional, sem deixar de lado as aulas que ministra pelo Brasil. Douglas já tem mais de 64 mil seguidores no Instagram e milhares de visualizações no Youtube. Seu trabalho pode ser conferido no endereço: https://www.instagram.com/ateliedmarchione/. As encomendas em Limeira e mais informações podem ser obtidas pelo telefone do ateliê (19) 99882-4677.
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Destaque Nacional no programa 'Mais Você' da TV Globo
O talento de Douglas Marchione ganhou os holofotes nacionais. O confeiteiro foi um dos selecionados para participar do reality 'Bolo de Aniversário da TV Globo', exibido no programa 'Mais Você'. A competição reuniu confeiteiros de todo o Brasil para criar o bolo comemorativo dos 60 anos da emissora.
Convidado pela produção do programa comandado por Ana Maria Braga, Douglas foi um dos nove confeiteiros selecionados em todo o país para a competição que celebraria os 60 anos da emissora. Para ele, a simples seleção já foi uma vitória. "Quem não quer estar num programa ao lado da Ana Maria Braga? Só de participar entre esses selecionados para mim já foi um mérito muito grande", revelou Douglas, que acompanha o programa desde a infância e vê na apresentadora uma figura admirável.
A participação foi ainda mais especial pela oportunidade de conhecer a apresentadora de perto. "Conheci de perto o ser humano incrível que é a Ana Maria Braga. Às vezes a gente tem medo de conhecer nossos ídolos, mas ela foi maravilhosa, acolhedora. Foi muito especial ter participado", compartilhou o confeiteiro, destacando a recepção calorosa nos bastidores.
No desafio, cujo tema era a dramaturgia, Douglas decidiu homenagear a novela "Chocolate com Pimenta". Sua criação foi um bolo de chocolate com recheio de ganache e uma inusitada geleia de pimenta. "A parte de baixo representou a Fábrica de Chocolate, que era o cenário da disputa na novela. Decidi dividir o bolo para mostrar essa briga pela fábrica e o sucesso que eram os bombons de chocolate com pimenta", explicou durante a apresentação.
A receita trazia segredos que aguçaram a curiosidade dos jurados e do público. "Uso um pouco de café dissolvido no leite [na massa] porque acentua ainda mais o sabor do chocolate. Não fica gosto de café, só ressalta o cacau", detalhou. Já a geleia de pimenta dedo-de-moça levava maçã verde. "A maçã tem bastante pectina, então ela incorpora mais rápido a geleia. E aqui a gente precisa de tempo, então a ideia foi usar [a maçã] para acelerar o processo."
A decoração, vibrante e com estética de desenho animado, foi feita com sua técnica característica: a pintura com aerógrafo sobre a pasta americana branca. Apesar da complexidade da criação, que envolvia andares cenográficos e reais, Douglas não levou o prêmio principal. Contudo, a visibilidade e a experiência foram inestimáveis. “Valeu a pena ter participado. É o que eu costumo dizer aos meus alunos: tente, busque sempre melhorar e não desista de seus sonhos”.
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