Foto de capa da notícia

Dia dos Pais: entre desafios e amor incondicional

O Dia dos Pais, celebrado neste domingo de agosto, é mais do que uma data comercial. É um momento para reconhecer o papel paterno e refletir sobre a importância da presença, do cuidado e do amor na criação dos filhos. Mas também é ocasião para debater questões pouco faladas — como a realidade dos pais que criam seus filhos sozinhos. 

Os chamados “pais solos” muitas vezes são vistos com admiração, por enfrentarem a rotina sem a mãe da criança. Mas há quem critique a visibilidade que recebem, apontando que mães solo — maioria nesse cenário — quase nunca ganham o mesmo reconhecimento. Nesse contexto, histórias como a do limeirense Rafael Becker mostram que, mais do que rótulos, o que importa é o amor e a entrega diária para criar um filho. 

Rafael, 46 anos, é vendedor e formado em Administração de Empresas. Sempre sonhou em ser pai. “Meu primeiro casamento foi em 2016 e, em agosto de 2019, me tornei pai do Gustavo. Foi a maior alegria da minha vida”, lembra. A felicidade, porém, foi interrompida de forma abrupta: “Dois meses após o aniversário de 1 ano do meu filho, eu fiquei viúvo. Perdi o chão completamente na época”, relata. 

Era plena pandemia, e o medo do vírus se somava à dor da perda. “Eu refletia e me questionava: e agora, como vou cuidar do meu filho sozinho? Era o meu maior medo. Não sabia como seria a nossa vida sozinhos”, disse. Para continuar trabalhando, contou com o apoio das avós, que ficavam com Gustavo durante o dia. Mas à noite, em casa, todo o cuidado era responsabilidade dele. “Banho, comida, troca de fralda, remédios, tudo! Meu filho tinha muita dificuldade para dormir. Muitas vezes eu precisava colocar ele no carro e andar pela cidade para que ele conseguisse dormir. Foi um período de muito sofrimento”, conta. 

O salto de pai presente para pai solo foi brusco. “Era muito desafiador. Como eu trabalhava fora, era minha finada esposa quem ficava com a maior parte dos cuidados. Mas naquele momento não tinha mais ela. Éramos eu e ele”, relata. O luto e a adaptação caminharam juntos. “O momento mais sofrido era a hora de dormir. Tinha dias que eu dormia cerca de 2 horas apenas, porque quando meu filho finalmente dormia eu ficava inseguro cada vez que ele se mexia. A preocupação tomava conta de mim”. 

A rotina mudou por completo. “Eu vivia em função do meu filho. Sempre amei assistir filmes e jogar videogame, mas nunca mais consegui fazer nada do que eu gostava. Eu precisava ser pai e mãe ao mesmo tempo”, disse. O dia começava cedo: “Acordava às 5h para deixar tudo organizado, levava o Gustavo às 7h30 para a casa da avó materna e ia trabalhar. Às 17h, buscava ele e ia para a casa da minha mãe, onde jantava ou pegava comida para levar para casa. À noite, era 100% dedicado ao Gustavo”, afirma. 

A decisão de seguir no próprio lar foi consciente. “Muitas pessoas me questionavam por eu não ter voltado a morar com a minha mãe. Eu sei que muitos homens fazem isso e não estou aqui para julgar ninguém, mas para mim não fazia sentido. Sempre quis que meu filho se orgulhasse do pai que tem. Sabia que seria difícil e foi, mas passamos pelos desafios juntos”, conta. 

Quando Gustavo tinha dois anos, veio outro baque: “Ele apresentava características do TEA e começamos uma investigação. Não falava, tinha dificuldade de socialização. Foram quase 12 meses de idas e vindas a terapias: fonoaudiologia, psicologia, terapia ocupacional e neurologista. Foi um período angustiante. No final de 2022, recebemos a notícia de que não era autismo, mas sim um atraso em virtude de tudo o que ele passou. Poderia ser revertido — e foi. Hoje, o Gustavo não apresenta nenhuma característica. É uma criança carismática e fala pelos cotovelos”, relata. 

Essa trajetória ensinou muito sobre amor. “Paternidade é doação. Gustavo dependia 100% de mim. Muitas vezes eu chegava à exaustão. Chorei de desespero sem saber o que fazer para acalmá-lo. Mas, às vezes, ele só me olhava com aquela carinha linda e todo o cansaço sumia como num passe de mágica”, afirma. O pai faz questão de deixar um recado claro ao filho: “Quero que ele saiba que o pai dele ama ele mais que tudo nessa vida. Faço questão de falar e demonstrar isso o tempo todo. Meu filho é muito amado”, disse. 

Nos últimos tempos, Rafael ganhou uma companheira especial e agora esposa: Graziela Félix. “Sou abençoado por ter ao meu lado essa mulher maravilhosa. Ela me ajuda não só com o Gustavo, mas em tudo. Abriu meus olhos para muitas coisas. Com o Gustavo, a conexão foi imediata. Na primeira vez que se viram, ele correu para abraçá-la. Até hoje é assim — ela é a ‘Gragra’ dele”, afirma. 

Hoje, olhando para trás, Rafael vê um menino saudável, amoroso e cercado de amor. O Dia dos Pais, para ele, tem dois lados: “Perdi meu pai aos 26 anos, então é uma data triste, mas ao mesmo tempo me preenche porque tenho o Gustavo, que me faz o pai mais feliz do mundo”, disse. 

A mensagem que deixa a outros pais é direta: “Muitos homens têm dificuldade em pedir ajuda. Meu conselho é: deixem o orgulho de lado e peçam ajuda. Não se isolem. Quando a gente está no fundo do poço, acha que não vai ter solução, mas Deus tem um plano maior. Se apeguem a Ele. Deus nos surpreende o tempo todo.”. Se tivesse que resumir sua história em uma palavra, ele não hesita: “Resiliência, sem dúvida nenhuma”.

Comentários

Compartilhe esta notícia

Faça login para participar dos comentários

Fazer Login