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Murilo Félix fala sobre desafios e projetos de Limeira rumo aos 200 anos


Entrevista especial com o prefeito destaca parcerias com o governador Tarcísio, obras em andamento e medidas para equilibrar as contas públicas

 

Elis Monfardini

 

À frente da Prefeitura desde janeiro, Murilo Félix assumiu o cargo em meio a uma grave crise financeira, com dívidas que ultrapassavam R$ 800 milhões. Nove meses depois, o prefeito avalia as ações adotadas para equilibrar as contas, fala sobre os desafios herdados da administração anterior e detalha projetos estratégicos que devem marcar os preparativos de Limeira para o bicentenário. Em entrevista à Gazeta de Limeira, Murilo ressaltou o apoio do governador Tarcísio de Freitas, a instalação da Fatec, a retomada do aeroporto e investimentos em áreas como saúde, educação, habitação e segurança.

 

O senhor assumiu a Prefeitura em situação de emergência financeira. Como foi enfrentar esse início de mandato e quais medidas foram tomadas para equilibrar as contas?

A Prefeitura iniciou o ano endividada em mais de R$800 milhões, entre curto e longo prazo. Empresas de lixo, de poda de mato e outras estavam sem receber desde julho do ano passado. Somente para 2025, até 31 de dezembro, herdamos um déficit de R$ 300 milhões. A solução foi reduzir o gasto com cargos comissionados, a redução foi de R$ 25 milhões por ano; também rever os contratos, propondo redução a cada contratado. Conseguimos também obter êxito em mais de 10 milhões, que precisa ser sanado até 2027; parcelamos, sem juros ou multa, o que o governo anterior deixou de dívida chamada restos a pagar. A redução está nos ajudando e, se Deus quiser, vamos terminar o ano sem déficit. Isso é gestão, e foi o que prometemos durante a campanha eleitoral.

 

Ainda há reflexos dessa situação no planejamento da administração ou a cidade já caminha para um cenário de maior estabilidade?

A dívida contraída pelo governo anterior vai durar mais de dez anos. Tem empréstimos que são para 15 anos e tem os juros dessa dívida. Além disso, o governo não se especializou em cobrar de quem deve para a Prefeitura. Isso levou a Prefeitura a ter mais de um bilhão de reais a receber, e, muitas dessas dívidas foram prescritas por falta de cobrança da Prefeitura. Então, por um bom tempo teremos reflexos. Por vários anos, a Prefeitura sofrerá pelo excesso de endividamento em que chegou.

 

Quais têm sido os maiores desafios da sua gestão até agora?

A dívida e a desestruturação da Prefeitura como empresa. Primeiro, a dívida gigante que nós herdamos, o déficit orçamentário para este ano mais de R$ 300 milhões; a falta de estrutura administrativa, iniciamos o ano com 500 cargos ilegais, tivemos que fazer uma reforma administrativa, sem dinheiro, com a estrutura administrativa comprometida. As áreas sociais também estavam muito comprometidas. Na Saúde, por exemplo, há Unidades de Saúde que a pessoa tem que ir pessoalmente para verificar quando vai abrir a agenda para marcar uma consulta com o médico, em outra data. Em pleno século 21, em 2025, isso foi um retrocesso porque há 20 anos já se marcava consulta por telefone. O número de moradores em situação de rua também aumentou muito por falta tratamento especializado, por falta de uma gestão que criasse um programa como esse que criamos agora: a Frente de Trabalho, que dá oportunidade para a pessoa trabalhar e cuidar da sua saúde mental e física. Em geral, faltavam políticas públicas. Além disso, a Previdência também tem um déficit que passa de R$ 100 milhões. O próprio dinheiro do aposentado, em muitas situações o governo anterior deixou de pagar a contribuição patronal e parcelou. Então esses foram os maiores desafios, mas gestão existe para isso, foi para isso que eu me propus, portanto eu não posso fugir da minha missão que é a de um gestor.

 

Quais dessas obras o senhor considera mais simbólicas para marcar a preparação de Limeira rumo aos 200 anos?

As obras mais importantes são aquelas que atendem as necessidades de cada área, às vezes a necessidade de uma pessoa não é a mesma de outra, então a Prefeitura tem que investir em todas as áreas, porque todas as pessoas têm direitos.

- Idosos: estamos reformando e readaptando o Centro de Saúde e Lazer do Idoso, para cuidar da saúde do idoso.

- Crianças: estamos reabrindo Centro de Saúde da Criança;

- Saúde Mental: vamos criar o Centro de Saúde Mental, com muito mais recursos.

- Autismo: novo Centro, além do CEMA. As obras que o governo passado deixou têm projetos incompletos e irregulares, então, vamos inaugurar um outro Centro. Serão dois locais para atendimento;

- Segurança: é prioridade. A violência atinge todas as pessoas, em todas as áreas, em todas as classes sociais. O sistema de câmeras que há hoje é “fake” porque só a câmera não basta. É preciso programas, interligação com plataformas de segurança do Estado, como a Muralha Digital, reconhecimento facial. Nem o número de câmeras, nem os programas das câmeras funcionaram, por isso, nós estamos rescindindo o contrato e exigindo que a empresa devolva o dinheiro que recebeu, afinal, ela recebeu desde o primeiro dia do contrato, mas nunca teve o contrato realizado na totalidade. Já abrimos uma sindicância para apurar os responsáveis. O prejuízo não foi só na segurança, mas também financeiro.

- Educação: estamos construindo duas novas creches. A creche do Caroline Pardo e a creche do Jardim Roseira, além da escola do Jardim Lagoa Nova.

- Saúde: também estamos com três novas obras. Dando continuidade à construção da UPA do Aeroporto, que vai ser uma das maiores do interior, uma nova UBS no Geada e outra no Santo Eulália. E ainda conseguimos recursos para a UBS do Manacá.

- Banco de Limeira: é um serviço importante que vai emprestar dinheiro para as pessoas abrirem ou investirem mais no seu negócio, tanto para o agronegócio quanto na indústria, comércio, serviço.

- Moradia: estamos investindo para que Limeira tenha cerca de três mil casas, seja por iniciativa da Prefeitura ou em parceria com o Minha Casa Minha Vida. Para isso criamos algo inédito no Brasil que é a Carta de Crédito. A Prefeitura irá pagar à Caixa Econômica 20 mil reais da entrada da casa. Então, quem quiser comprar sua casa e não tem dinheiro para a entrada, a Prefeitura vai pagar esse valor. A Carta de Crédito ficará a cargo da Secretaria de Habitação e do Banco de Limeira.

- Pedágio: está sendo remodelando o pedágio.

- Ônibus: estava sendo pago R$ 28 milhões a mais para a empresa de ônibus, conseguimos na justiça, por liminar, o não pagamento desse valor.

- Água: um novo reservatório, já estamos a todo vapor com os estudos para viabilidade.

É com esses acertos de gestão, é que vamos investir no aeroporto. Vamos investir para a vinda de novas indústrias, novas empresas.

 

O governo já anunciou importantes obras e até a retomada do projeto do aeroporto. Como essas iniciativas foram viabilizadas, considerando as dificuldades financeiras herdadas?

O dinheiro vem da economia e da gestão responsável. Sou contra endividamento, sou contra gastar mais do que se arrecada. Sou a favor de se pagar em dia os fornecedores e, assim, comprar mais barato pela confiança do fornecedor.

 

No caso específico da nova represa, qual a importância dessa obra para garantir o abastecimento da cidade no futuro?

Vamos investir em um novo reservatório de água. A intenção é chegar a dois bilhões de litros d'água. Uma revolução para não faltar mais água em Limeira. Estamos perto dessas negociações. Imagino que em 2026 iniciaremos as obras.

 

A instalação da Fatec é uma demanda antiga. O que representa para a formação profissional e tecnológica da juventude limeirense?

A Faculdade de Tecnologia, a FATEC, está sendo uma grande conquista para a Limeira. Durante muitos anos, a Prefeitura não se interessou, nós retomamos e conseguimos que fosse aprovada. Com a ajuda do nosso governador Tarcísio teremos uma nova faculdade, de graça para a Limeira, e melhor ainda, com curso de tecnologia, área em que estão os empregos atuais e do futuro. Desta forma, os investimentos do Estado para pagar os professores profissionais, ficarão em Limeira em forma de salário, ajudando o comércio da cidade. Limeira ganhará muito com a instalação dessa nova faculdade. Uma conquista que devemos celebrar nesse aniversário.

 

O aeroporto voltou a ser citado como projeto estratégico. Qual será a função dele no desenvolvimento econômico da cidade e como Limeira pode se inserir nesse cenário regional e estadual?

O aeroporto é importante porque boa parte do transporte hoje não é só através de caminhão, e o Brasil não investiu em trens, tampouco em outras modalidades como a hidrovia. Avião hoje transporta carga. Empresários que têm aviões precisam de hangares para seus aviões e de oficinas mecânicas assim como as companhias aéreas, além disso há a possibilidade de, no futuro, investir em aviação regional, coisa que existe nos países desenvolvidos. O Brasil tem apenas um quarto do que têm países na mesma condição financeira do Brasil, em voos regionais, ou seja, o Brasil pode crescer três vezes mais o número de voo regional, o uso de avião tanto para carga quanto para passageiros. Vale lembrar que empresas multinacionais utilizam-se muito de aviões, e Limeirenses estão levando as suas aeronaves para Campinas, Jundiaí e outros aeroportos da região. Limeira ganhará recursos, emprego, investimento e disposição nacional entre as maiores e mais desenvolvidas cidades do país.

 

 

Que cidade o senhor espera entregar quando Limeira completar 200 anos?

O ano que vem Limeira completa dois séculos. Penso que devemos retomar a vocação que essa cidade tem, e por isso cresceu tanto, que é do empreendedorismo, do trabalho na zona rural, na agricultura, na indústria, no comércio, serviço, sendo também um centro regional de decisões, de investimentos universitários como a Unicamp. É preparar Limeira para o futuro sempre. A preparação para o futuro é constante. Chegamos ao número de habitantes e à prosperidade que a Limeira tem porque a cidade sempre cumpriu com algumas regras. A cidade precisa incentivar quem empreende, precisa investir e investir. Infraestrutura de trânsito, lá atrás a Estação Ferrovia trouxe desenvolvimento. Hoje, deve se pensar no rodoanel, no aeroporto e na infovia, as coisas não são mais transportadas apenas por estradas físicas, mas por estradas virtuais, é por isso que reduzimos os impostos para marketplace, para investimentos em criadores de softwares e aplicativos, serviços tecnológicos, e assim é que a cidade vai estar preparada para receber os novos investimentos. Em um futuro próximo, o que vai se transportar em informação, em infovias, será maior do que será transportado em rodovia. A cidade tem que ser tecnológica, mas também, como algumas cidades milenares, na Ásia e na Europa, manter o pé nos seus valores. Ao mesmo tempo que avançamos na área social e comportamental, na educação, na melhoria da saúde pública, da segurança pública, também temos que ver a cidade prosperar nas novas modalidades de investimentos privados e públicos.

 

Qual legado o senhor gostaria que a sua gestão deixasse registrado na história da cidade?

Eu não quero fazer mais dívidas. Terei que pagar a dívida do governo anterior. Vou perseguir a redução do número da violência. Vou atrás de novas empresas. Na Educação, que consigamos passar para as crianças e adolescentes, além de conhecimento e dados, responsabilidade, maturidade, respeito ao próximo e desafio pessoal de crescimento. Vejo também que a saúde deva avançar nos exames e diagnósticos para a prevenção de doenças e assim ter mais acesso a tratamentos e cura. A longevidade está aumentando, mas é preciso que a qualidade de vida das pessoas também acompanhe essa longevidade. O meu legado será de gestão, de administração, fazer o que a ciência da administração manda fazer. Não vou gastar mais o que arrecada. Não vou fazer política que comprometa a empresa pública, chamada prefeitura municipal. Vou buscar a eficiência, que é o lema maior do nosso governo, responsabilidade e eficiência. Se conseguirmos isso, Limeira se aproximará dos melhores índices municipais do Brasil.

 

Como a atual gestão pretende tratar o assunto do contrato de robótica?

Esse contrato de robótica não foi aprovado nem pelos professores, ninguém consegue entender uma coisa que custou um absurdo, cerca de R$ 11,9 milhões, e que a própria categoria não aprova e que amarra a Prefeitura para comprar dessa empresa sempre mais e mais materiais, sendo que há tantas outras coisas que precisam ser investidas na educação, lembrando que há uma suspeita, que está sendo levantada sobre o superfaturamento desses materiais. Isso está tudo sendo investigado em uma sindicância.

 

No início do ano, você tomou conhecimento do grande número de moradores de rua, como está essa situação hoje, após 9 meses?

Essa é uma questão que merece muita atenção e, por isso, começamos criando a Frente de Trabalho, um apoio imediato, que oferece um trabalho digno a pessoas desempregadas ou em situação de vulnerabilidade, como os moradores de rua. Essas pessoas terão seu salário e já podem recomeçar, além disso, elas serão preparadas/qualificadas para voltar ao mercado de trabalho e não ficar somente em atividades provisórias. É uma questão de dignidade.

 

Prefeito, a gestão conseguiu reduzir significativamente os gastos com o corte de mato na cidade. Como isso foi possível e qual foi a estratégia adotada para gerar essa economia?

A cidade pagava um dos valores mais caro do Brasil no metro quadrado de corte mato. Na última licitação a cidade teve uma grande economia, de 10 milhões de metros quadrados para corte de mato, caiu de R$ 8,4 milhões R$ 1,6 milhão, sendo que as empresas ganham por metro quadrado, tanto a anterior quanto essa, ou seja, uma cobrava R$ 0,84, já a que ganhou agora, R$ 0,16. Ambas dependem da eficiência da Prefeitura em fiscalizar. O fato é que Limeira pagou nos últimos anos cifras milionárias que podem ultrapassar a casa dos R$ 40 milhões, pagos a mais pelo corte do mato, para se obter o mesmo resultado que se obtém hoje.

 

Quais são os problemas que envolvem os serviços de rádio da Guarda Civil Municipal?

O serviço de rádio da guarda é irregular e apresenta defeitos, como o delay, ou seja, um atraso entre uma comunicação e outra, além disso, os valores pagos ao fornecedor era quase o dobro do que se pratica no mercado. Não se trata de uma crítica, mas um gestor não pode agir assim. Notificamos a empresa e as providências foram tomadas. Os produtos fornecidos para a Prefeitura, geralmente são em grandes quantidades e, por isso, a Prefeitura deveria pagar até mais barato que o mercado.

 

Prefeito, quais medidas a administração pretende adotar para melhorar a gestão do lixo em Limeira e a limpeza da cidade?

Vamos investir em um novo aterro municipal, Limeira não ter mais onde jogar lixo. Falei isso durante a campanha e nós vamos cumprir. Também retomar a reciclagem do lixo, maior eficiência da limpeza e cuidar melhor da cidade, deixar a cidade mais limpa e mais bonita, mais agradável.

 

Você citou em uma de suas entrevistas que pretende instalar um sistema de câmeras eficiente e quer a ajuda do limeirense, como será esse processo?

Limeira será uma das cidades com o maior número de câmeras em todo o Brasil. Vamos instalar câmeras em toda a cidade e incentivar a população a participar, colocando câmeras em sua casa e compartilhando as imagens necessárias com a Prefeitura. Com um projeto de lei, quem aderir terá desconto no imposto. Assim teremos bairros mais seguros.

 

Você acha possível diminuir o número de crianças que aguardam por vagas em creche?

Queremos diminuir drasticamente esse número. Herdamos um déficit de 800 vagas em creches. Já estamos com duas novas creches em processo de construção, e outras virão.

 

Prefeito, para encerrar, há algum tema que não foi abordado e você gostaria de falar?

Não podemos nos esquecer do Limeira Clube, que iria ser vendido. É um clube histórico e nós evitamos que a cidade perdesse esse espaço. Temos que lembrar também que a Beneficência de Limeirense, um hospital fechado há muitos anos, será retomado pelo município. Lá teremos também o Centro de Cuidados Paliativos. Quando não há mais possibilidade de cura, o que a pessoa mais precisa é de qualidade de vida. Nesse Centro, quem estiver em situação de maior vulnerabilidade, seja pela idade ou por uma doença grave, terá acesso a cuidados paliativos, com ações voltadas a reduzir o sofrimento, oferecer conforto e garantir dignidade.

 

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