Foto de capa da notícia

Limeirenses são detidos após manifestações em Brasília

Três ônibus que levaram pessoas de Limeira para Brasília no final da semana passada foram apreendidos, por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Morares. A ordem foi dada após as manifestações que culminaram com a destruição das sedes dos três poderes da República, no último domingo.
A Gazeta localizou uma funcionária pública municipal, que está entre as mais de 1,5 mil pessoas detidas pela Polícia Federal. Lotada na Secretaria de Segurança Pública e Defesa Civil, Fátima Prearo, está gozando período de férias e foi para protestar contra o atual governo, na capital federal.

Durante a tarde de ontem, a Polícia Civil de Limeira informou que pediu o desligamento da servidora pública municipal dos quadros da corporação em Limeira. O contato com ela foi feito pelo telefone na manhã desta terça-feira, enquanto ela permanecia no ginásio da Academia da Polícia Federal, esperando a sua identificação e oitiva.

GL: Onde você está nesse momento?
FÁTIMA: Nós estamos na Academia da Polícia Federal. A gente fez um S.O.S. em forma de pessoa. Foi desumano o que aconteceu. Muito desumano. Por que eles falaram para gente de manhãzinha [de segunda-feira]. 'Peguem tudo o que vocês têm e corram. Corram o máximo que vocês puderem. E aí, todo mundo saiu correndo, porque a gente tava dormindo. Começamos a correr, mas quando chegamos na porta, os próprios 'meninos' do Exército fizeram uma barragem e mandaram a gente entrar nos ônibus. Na verdade, nós fomos sequestrados. E andaram, andaram, andaram com a gente. E depois a gente descobriu que eles estavam falando que a gente era terrorista, mas tiraram a gente de dentro do QG.

GL: Vocês estavam acampados na porta do QG?
FÁTIMA: Nós estávamos acampados no QG. Nós estávamos em uma tenda, no QG.

GL: Dentro do QG?
FÁTIMA: É, dentro do QG. Eles andaram com a gente, desfilaram com a gente, com helicóptero rodando, com tudo. Aí levaram a gente para uma base militar. Filmaram a gente entrando com os ônibus. Pararam os ônibus. Deixaram a gente no sol com o ônibus fechado. Depois de um tempo, eles abriram e trouxeram a gente para cá. 

GL: E vocês estão aí desde então?
FÁTIMA: É. Ontem, quatro pessoas morreram. Não sei se foi de infarto ou de AVC (Acidente Vascular Cerebral).

GL: Quatro pessoas morreram?
FÁTIMA: Quatro. Um senhor e três mulheres.

GL: Vocês estão recebendo alimentação. Estão conseguindo dormir? Como vocês estão sendo tratados?
FÁTIMA: A gente está sendo tratado como bicho. Os advogados chegam aqui e metem pressão. ‘Vocês têm de contratar a gente. Vocês têm de pagar, se não vão ficar'. Aí, eles cobram 3 mil (Reais) 'por cabeça'. E é tudo advogado esquerdista, querendo tirar dinheiro do povo. O povo não tem dinheiro. Comida? Estão dando comida de presidiário para gente, mesmo, Sabe? Aquela linguiça com gosto de ração, arroz com fubá. Hoje deram um pão, mas ontem eles foram dar comida e água para gente às 16h.

GL: Você participou da manifestação no domingo na Praça dos 3 Poderes. Você participou daquilo que ocorreu?
FÁTIMA: Foi todo mundo, tá. Tem alguns vídeos na Globo, que via que eram infiltrados da Globo (TV). Tinham uns índios dentro do QG. Esses índios, pelo que eu fiquei sabendo, eles estavam fazendo reunião com o pessoal. Só que falaram que eles iam fazer uma reunião, ensinando o pessoal fazer algumas coisas. Mas essas reuniões eram fechadas. Não era todo mundo que participava. E, na verdade, eu fiquei sabendo agora que essas reuniões secretas para ensinar a fazer coquetel molotov. Eles estavam se reunindo para fazer esse tipo de coisa para invadir lá [palácios]. Só que a programação nossa não era para ter sido lá, da forma que foi no domingo. A gente ia fazer uma manifestação na segunda-feira, mas quando a turma de Limeira chegou em Brasília, nós ouvimos os estrondos e eles já tinham tudo subido a rampa, entendeu?

GL: Quando vocês chegaram em Brasília?
FÁTIMA: Nós chegamos de quinta para sexta. Era meia noite e meia, mais ou menos.

GL: A programação de vocês era para participar de uma manifestação na segunda?
FÁTIMA: A manifestação seria na segunda. Nós fomos para lá para ficar mesmo acampados, para fazer [manifestação] na segunda. E ai, aconteceu tudo isso no domingo. Nós não sabíamos, não tínhamos a mínima ideia que ia acontecer isso. Tanto que a gente levou faixa [escrita] de Limeira. A gente estava de mochila com alimentos, preparados para ficar no chão. A gente foi para ficar lá para segunda-feira porque a gente sabia que lá tava enchendo e estava super lotado lá.

GL: Vocês estão em quantas pessoas de Limeira, mais ou menos, que você saiba?
FÁTIMA: No ônibus, veio mais ou menos umas 20 pessoas. E a gente está agora em 10, aproximadamente, em 10.

GL: Já teve limeirense que foi preso? Levado para presídio?
FÁTIMA: Não sei. Depois que sai daqui a gente fica incomunicável.

GL: Mas vocês não sabem o que vai acontecer com vocês?
FÁTIMA: Não. A gente sabe que eles falam que vão prender todo mundo.

GL: Apreenderam o ônibus de vocês.
FÁTIMA: Sim. Apreenderam nossos ônibus. De todos. Não foi só os de Limeira, não. Foi de todos os manifestantes que estavam no QG.

PF NEGA MORTES
Na segunda-feira a noite, a Polícia Federal (PF) negou que tenha ocorrido mortes no ginásio onde está a limeirense. O boato foi repercutido pela deputada Bia Kicis (PL-DF), durante a votação para a aprovação da intervenção federal, decretada pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, no último domingo.

A parlamentar afirmou que a OAB tinha confirmado a morte de uma idosa. A própria OAB desmentiu a informação pouco depois. Em nota, a PF alega que "falsa a informação de que uma mulher idosa teria morrido na data de hoje (9/1) nas dependências da Academia Nacional de Polícia". O interventor Paulo Capelli, nomeado pelo presidente da República, também desmentiu a informação.

A foto usada na arte usada para disseminar o boato é de um banco de imagens gratuito. O fotógrafo responsável pela foto, Edu Carvalho, confirmou ao jornal O Globo que a imagem está sendo usada de forma indevida. A idosa que aparece no registro é a sogra dele, morta em 2022, vítima de um AVC.

Comentários

Compartilhe esta notícia

Faça login para participar dos comentários

Fazer Login