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Pecadores: do que devemos ter medo?

Por Farid Zaine

@farid.cultura

 

Um filme de terror? Um filme sobre vampiros? Um filme que tem forte apelo musical em torno do blues? Um filme sobre racismo e violência contra negros nos EUA? Estamos falando de vários filmes? Sim, temos incontáveis exemplos desses gêneros, mas hoje comento sobre um longa que reúne todas essas características, “Pecadores” (Sinners), de Ryan Coogler, sucesso de bilheteria nos cinemas e que agora está disponível no streaming para aluguel ou compra. Vale a pena mergulhar no universo pensado por Coogler, através da história de Sammie, talentoso guitarrista e cantor de blues, filho de um pastor e primo dos irmãos gêmeos Smoke e Stack. Os gêmeos , após longo período trabalhando com Al Capone em Chicago, retornam à sulista cidade natal para abrir uma casa de shows destinada à população negra. Aí já tempos grandes trunfos do filme, que são as interpretações irretocáveis dos intérpretes dessas personagens: Sammie é interpretado pelo músico Miles Caton, e os gêmeos por Michael B. Jordan que,  num papel duplo, é responsável pela maior parte da força do longa.

À medida que “Pecadores” avança, vamos nos enredando numa aventura que envolve a forte presença do blues, no princípio chamada  a “música do diabo” por preconceituosos brancos americanos do início do século XX , e como essa música é capaz de conectar a história de antepassados com as gerações que surgem, bem como aos romances de suas personagens, carregados de misticismo, para contar o peso da opressão e da violência racista. Como auge dessa evolução, vemos “Pecadores” avançar para um “filme de vampiros”, pesadíssimo e levado num ritmo alucinante. Onde está o verdadeiro mal? Nas pessoas transformadas em vampiros, lideradas por Remmik (Jack O´Connell), antigo dono de terras da região, que cria uma horda de monstros que deseja, a todo custo, invadir o clube de Smoke e Stack? Nos supremacistas brancos unidos para despejar seu ódio contra os negros? Tudo isso vira uma mistura explosiva em “Pecadores”, que a todo momento direciona os espectadores para tentar entender do que realmente devem ter medo. A força do blues, usada como ameaça e como redenção, permeia todo o longa de Coogler, com cenas antológicas que misturam sons poderosos com coreografias exuberantes. No clímax do filme, o enfrentamento solitário de Smoke contra racistas, que ele elimina com a torcida do público, e sua visão de Annie, sua esposa com a filhinha morta, e a figura de Sammie com seu violão, arma que ele usa para derrotar Remmik, o pior dos vampiros, são simbólicos e significativos para a compreensão de toda a história.

A presença feminina é marcante em “Pecadores”, principalmente nas performances de Wunmi Mosaku, como a esposa de Smoke, Hailee Steinfeld, como Mary, ex-namorada de Stack e Jayme Lawson, como a cantora Pearline.

Dono de uma filmografia diversa, que inclui enormes sucessos como “Pantera Negra” , “Pantera Negra: Wakanda para Sempre” e “Creed: Nascido para Lutar”, Coogan assina também o premiado e magnífico  “Fruitavale Station: A Última Parada” e participa como produtor de “Judas e o Messias Negro”. Mas é com esse “Pecadores”, de 2025, que ele atinge o ponto mais alto de sua carreira até agora. Estamos chegando apenas ao mês de junho, mas “Pecadores” já entra na lista dos melhores filmes do ano, com chances de indicações e vitórias em diversas categorias dos principais prêmios do cinema, incluindo o Oscar.

“Pecadores” surge como um filme inovador e corajoso, que usa todos os seus elementos – violência, racismo, preconceito, misticismo, vampirismo, romance e o poder da música – para revelar os verdadeiros demônios de cada um e os antídotos para combatê-los.

PECADORES (Sinners, EUA, 2025) – Longa escrito e dirigido por Ryan Coogler , com Michael B. Jordan e Miles Caton. Disponível para aluguel e compra em várias plataformas, incluindo Prime Video e Apple TV+.

Cotação: *****ÓTIMO

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