Por Farid Zaine

@farid.cultura

farid.cultura@uol.com.br

Celine Song é uma diretora que, numa carreira relativamente curta, já acumulou elogios e indicações ao Oscar. Seu longa “Vidas Passadas”, uma delicada incursão pela vida de um casal que tem um grande relacionamento afetivo desde crianças, ganhou notoriedade ao ser indicado a Melhor Filme e Melhor Roteiro na edição de 2024 do Oscar. O roteiro também é dela. Chegou nesta semana aos cinemas brasileiros o novo longa de Song, “Amores Materialistas”, aguardado com muita ansiedade após a trajetória bem-sucedida do belo e delicado “Vidas Passadas”. Já pelo título  se nota que a diretora , que nasceu   na Coreia do Sul, estudou no Canadá e mora nos Estados Unidos, buscou um novo foco para contar uma história de amor. A escolha do elenco também é forte reflexo dessa guinada. Em “Vidas Passadas”, o casal de protagonistas é interpretado pela dupla Greta Lee e Teo Yoo , e embora ambos já possuam um vasto currículo que inclui muitos filmes e produções para a TV, não  são exatamente estrelas capazes de chamar público. Pois bem, Song buscou para seu novo longa simplesmente o mais requisitado astro do momento , Pedro Pascal, para compor um triângulo amoroso encabeçado por Dakota Johnson , com Chris Evans na outra ponta. Chamariz de primeira atualmente, Pascal está tanto em séries consagradas como “The Last of Us”, como em blockbusters do cinema como o recente “Quarteto Fantástico: Primeiros Passos”. Já Dakota Johnson , a principal figura do filme, é sempre lembrada como a personagem Anastasia, do romance erótico “Cinquenta Tons de Cinza”, e Chris Evans é simplesmente a encarnação do Capitão América. Com um trio desses a atenção do público já está assegurada. 

A personagem de Dakota Johnson é Lucy, uma casamenteira profissional. A própria Celine Song já teve essa profissão, então ela é grande conhecedora do assunto. Ao procurar unir pessoas pelo casamento, a função de Lucy é, segundo suas próprias palavras, comercial e bem matemática: as qualidades requisitadas por quem contrata seus serviços para encontrar um par é meticulosamente medida até que aconteça um primeiro encontro, que pode ou não dar certo. Lucy vem de um antigo relacionamento com John (Chris Evans), um ator pobre que trabalha como garçom e divide um apartamento com colegas, e se envolve com Harry (Pedro Pascal), um homem rico, alto e bonito, que aparentemente reúne todas as qualidades necessárias para um bom “negócio matrimonial”. No trabalho e nos relacionamentos, vamos acompanhando a evolução desse triângulo. Enquanto Lucy descobre fatos sobre a verdadeira altura de Harry, John consegue estrear uma nova peça, e uma cliente de Lucy , Sophie, entra na história para mostrar um relacionamento abusivo com um homem arranjado na agência de casamentos. Logo no início da história, Lucy fala a uma cliente : “O casamento é um negócio. Sempre foi. Você sempre pode ir embora se esse negócio não for bom”. Em algum momento da vida pessoal, ela verá que nessa negociação, “o amor deve entrar na mesa”.

Celine Song constrói uma comédia romântica charmosa sobre um assunto nem sempre mostrado com tanta clareza, a união entre pessoas baseada em acordos comerciais, medidas, matemática. A diretora e roteirista é também dramaturga, e numa cena em que o triângulo formado por Lucy, Harry e John conversa na frente de um teatro, vemos o cartaz da peça onde John atua, “Tom & Eliza”, que é de autoria dela. Detalhe interessante, nem sempre notado.

“Amores Materialistas” estreia no fim de um mês dedicado a animações e filmes de super-heróis. Não deixa de ser uma opção bem-vinda para adultos que gostam de romances protagonizados por artistas famosos e bonitos, mesmo que uma certa e incômoda reflexão permaneça após os créditos finais: todo casamento é um negócio?

AMORES MATERIALISTAS (Materialists, 2025) – Longa de Celine Song, com Dakota Johnson, Pedro Pascal e Chris Evans – Em cartaz nos cinemas.

Cotação: ***BOM