Foto de capa da notícia

Meu Ano em Oxford : viver é aproveitar cada momento

Por Farid Zaine

@farid.cultura

farid.cultura@uol.com.br

 

“ Para Sempre é composto por agoras”. O poema muito citado da  poetisa americana Emily Dickinson surge num dos diálogos do filme “Meu Ano em Oxford”, a comédia melodramática que faz sucesso na Netflix. Não é apenas Dickinson que é lembrada. Como a história se passa num ambiente universitário, Oxford, mais especificamente envolvendo um professor de literatura e uma aluna apaixonada por livros, outras citações poéticas surgem. Uma delas , recorrente, menciona o poema “Crossing the Bar”, escrito por Alfred Lord Tennyson (1809-1892). No poema, Tennyson reflete sobre a morte, usando as imagens de um barco que atravessa um banco de areia, como se fosse assim  a transição da vida para a morte.

Quando se começa a assistir ao longa  “Meu Ano em Oxford”, a sensação é a de que teremos pela frente apenas mais uma comédia  típica de romances entre jovens estudantes de uma escola famosa, no caso uma das mais conceituadas universidades do mundo. A história mostra a americana Anna, interpretada por Sofia Carson, cujo sonho é estudar poesia em Oxford, o que ela consegue realizar com algum sacrifício, mas com total apoio dos pais; a ideia é ficar um ano em Oxford e voltar da Inglaterra com o diploma do prestigiado curso , já com um ótimo emprego à espera. Mas todos sabem que, em filmes do gênero, os planos podem mudar completamente. Na Universidade, Anna se envolve com um professor substituto de literatura, Jamie, interpretado por Corey Mylchreest, conhecido pelo papel de Rei George em “Rainha Charlotte”, minissérie da Netflix, spin-off de “Bridgerton”. Anna e Jamie se esbarram antes dela saber que ele será seu professor, e numa situação que gera atrito imediato entre os dois. O público sabe, obviamente, que esse estranhamento inicial vai acabar em romance. Mas as coisas não seguem como um mero caso açucarado. Anna percebe uma possibilidade de traição por parte de Jamie, permanentemente envolvido com Cecelia Knowles (Poppy Gilbert) e com uma relação conflituosa com o pai que ele insiste em esconder. Quando as coisas começam a ficar claras para Anna, vamos descobrir fatos importantes da vida pregressa de Jamie, o que inclui a morte do irmão, Eddie,  namorado de Cecelia, vitimado por um raro tipo de câncer hereditário.

“Meu Ano em Oxford” acaba caminhando, em sua segunda parte, para aquele tipo de filme romântico que arranca lágrimas da plateia. Não dá para não nos lembrarmos de retumbantes sucessos que beberam nessa fonte, como o já clássico “Love Story”, um enorme sucesso de bilheteria do início dos anos 1970 e que levou ao estrelato Ali MacGraw, fazendo par com o então já famoso Ryan O´Neal. A trilha sonora criada por Francis Lai é até hoje uma das mais consagradas para filmes do gênero. Outra referência que não se pode ignorar é mais recente, de 2014, e foi baseada no best-seller homônimo de John Green, “A Culpa é das Estrelas”, que conta a história do jovem casal que sofre de enfermidades graves, Hazel e August, interpretados por Shailene Woodley e Ansel Elgort.

Mesclando comédia, drama, sonhos, frustrações e poesia, “Meu Ano em Oxford” se revela como uma grata surpresa. As citações de Emily Dickinson e Tennyson reforçam um lado pouco comum em filmes do gênero. Há um romance leve, sim, com situações cômicas, paisagens oníricas, mas há também uma reflexão sobre a finitude, sobre a negação e a aceitação da morte. E há uma certa recomendação implícita que remete a outro filme que mistura escola tradicional para rapazes e um professor quebrando regras: falo de “Sociedade dos Poetas Mortos”, de 1989, e da célebre frase em latim repetida pelo professor vivido por Robin Williams: “Carpe Diem” (aproveitem o dia). Diante das incertezas da vida e das manobras do destino , a combinação certa seria misturar o “para sempre é composto por agoras” com “carpe diem”. O filme “Meu Ano em Oxford” está aí para mostrar justamente isso.

MEU ANO EM OXFORD (My Oxford Year, 2025) – Romance dirigido por Iain Morris, com Sofia Carson e Corey Mylchreest – Disponível na Netflix.

Cotação: *** BOM

 

Comentários

Compartilhe esta notícia

Faça login para participar dos comentários

Fazer Login