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Dia do Alfaiate resgata a trajetória de Natal Batista Ferraz

Neste 6 de setembro, quando se celebra o Dia do Alfaiate, a Gazeta resgata a trajetória de um personagem que há décadas ganhou um lugar garantido nas páginas do jornal e no coração dos limeirenses: Natal Batista Ferraz, um homem que construiu sua vida a partir da agulha número 7, do dedal e da tesoura – ferramentas simples, mas que sustentaram sessenta anos de história em um ofício hoje considerado raro.

 

“Comecei pequeno, ainda menino, observando minha mãe costurar. Aquilo me encantava”, relembra Natal, hoje com 78 anos, aposentado, mas ainda dono de uma fala calma e firme. O pai, conta ele, no início torceu o nariz para a escolha do filho. “Meu pai achava que não tinha futuro. Mas um conhecido lhe disse: ‘deixe, pode ser que seu filho seja alfaiate, e isso é profissão de respeito’. Foi aí que ele sossegou”, disse.

 

Nos tempos áureos da alfaiataria em Limeira, na década de 1950, a cidade chegou a ter mais de 60 profissionais. Hoje, restam apenas oito, todos já com idade avançada, e sem sucessores. “A gente não conseguiu passar para frente. Ser alfaiate exige tempo, no mínimo quatro anos aprendendo com outro. Não é curso rápido, não é moda. É ofício. E poucos querem aprender”, diz Natal.

 

Entre tecidos, moldes e ajustes, Natal viu passar por sua fita métrica prefeitos, vereadores, delegados e diversas autoridades. Costurou ternos para nomes como Jurandyr Paixão e Paulo D’Andrea. Tirou medidas de Silvio Félix e até dos filhos, entre eles Murilo Félix, atual prefeito de Limeira. “Foram centenas de ternos. Cada um tinha uma história. O terno sempre impôs respeito. Antes, para entrar em alguns clubes, era obrigatório. Sempre foi sinônimo de elegância”, destaca.

 

Com orgulho, ele ainda guarda seu dedal e sua tesoura – esta última, afiada como no início da carreira. “Já quiseram comprar de mim. Mas essa fica comigo. Faz parte da minha vida. Com ela, formei meus dois filhos, uma advogada e um cientista. Devo tudo à alfaiataria”, ressalta.

Natal explica que um bom terno, feito à mão, exige tempo e dedicação. “Hoje é tudo rápido, industrial. Um terno bom leva pelo menos um dia para ficar pronto, e 80% dele é feito na mão. E já nem se encontra mais tecido como antigamente, só em grandes indústrias. Mudou muito”, disse.

 

A palavra alfaiate, tão familiar em português, tem raízes antigas. Deriva do árabe alkhayyát, do verbo kháta, que significa coser. Em outros idiomas, o termo também se espalhou: tailor, em inglês; tailleur, em francês; sarto, em italiano; sastre, em espanhol. A profissão está registrada desde o século XIII, quando em 1297 o termo “tailor” era usado para definir o “cortador de tecidos”.

 

O ofício do alfaiate também foi retratado na arte. Uma das imagens mais conhecidas é a pintura “O Alfaiate”, de Giovanni Battista Moroni, datada entre 1565 e 1570, hoje na Galeria Nacional de Londres. A obra mostra não apenas um trabalhador, mas o símbolo de um tempo em que a roupa começou a assumir novo papel na sociedade.

 

Na Idade Média, o vestuário servia sobretudo para cobrir o corpo. Já no Renascimento, veio a valorização das formas humanas. As roupas passaram a ser cortadas e costuradas para destacar a silhueta, abrindo espaço para a moda como a conhecemos. Foi nesse momento que os alfaiates se tornaram essenciais. Em Limeira, Natal testemunhou essa transformação de perto. “O terno sempre foi mais do que roupa. Era respeito. E mesmo hoje, quando quase ninguém mais faz à mão, ele ainda é sinônimo de elegância. Não é só pano. É história”, disse.

 

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