
“TDAH é confundido com efeitos do estilo de vida atual”
O
Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma condição
neurobiológica que costuma se manifestar ainda na infância e pode acompanhar o
indivíduo ao longo da vida. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde
(OMS), cerca de 5% das crianças e adolescentes no mundo apresentam o
transtorno. Já entre os adultos, a prevalência gira em torno de 2,5%. No
Brasil, estima-se que mais de 2 milhões de pessoas convivem com o TDAH, embora
muitas delas sem diagnóstico ou tratamento adequados.
Caracterizado
principalmente por desatenção, impulsividade e hiperatividade, o transtorno
pode interferir diretamente no desempenho escolar, na vida profissional e nos
relacionamentos interpessoais. No entanto, em um cenário de excesso de
estímulos e hiperconectividade, crescem os relatos de pessoas com dificuldade
de concentração — e nem sempre isso significa a presença de um transtorno.
Em
entrevista à Gazeta, a neuropsicopedagoga e gerontóloga de Limeira, Dra. Érica
Sofia, explica que é preciso distinguir o TDAH de comportamentos causados pelo
estilo de vida contemporâneo.
“Vivemos
cercados por estímulos constantes: notificações no celular, excesso de
informações nas redes sociais, vídeos curtos, sons, luzes, compromissos… e o
resultado disso é um número crescente de pessoas, de crianças a adultos,
relatando dificuldade de atenção, memória e concentração”, afirma.
Segundo
a especialista, o cérebro humano não foi projetado para lidar com múltiplas
tarefas simultâneas. “Alternar entre várias atividades pode até dar a sensação
de produtividade, mas na verdade gera cansaço mental, ansiedade e queda de
desempenho. Quanto mais tentamos fazer tudo ao mesmo tempo, menos conseguimos
fazer bem feito.”
Dra.
Érica destaca que muitas pessoas apresentam sintomas parecidos com os do TDAH,
mas sem necessariamente ter o transtorno. “É importante diferenciar os
transtornos reais de atenção das dificuldades causadas pelo excesso de
estímulos, noites mal dormidas, pouca atividade física e ausência de pausas.
Tudo isso afeta diretamente o funcionamento do cérebro”, explica.
Para
lidar com essa sobrecarga mental, a orientação é investir em hábitos saudáveis.
“Reduzir o uso contínuo de telas, desativar notificações, valorizar o sono e o
silêncio, fazer pausas regulares e praticar atividades físicas e lúdicas,
especialmente na infância, são formas de preservar o foco e a saúde mental”,
orienta.
A
profissional também defende a criação de rotinas equilibradas, com tempo para
concentração e para o descanso. “O cérebro precisa de equilíbrio. Estar atento
é um treino, e manter a mente saudável exige escolhas conscientes. Menos
barulho, mais presença. Menos pressa, mais foco”, resume.
Na
comparação que faz, Dra. Érica diz que o cérebro funciona como um jardim, onde
cada influência é uma semente. “Se a gente planta estímulo demais e descanso de
menos, não colhe atenção. Por isso, é preciso cuidar da mente como se cuida de
uma planta: com rotina, pausa, variedade e cuidado.”
O
diagnóstico do TDAH deve ser feito por equipe especializada, considerando
histórico clínico, comportamental e escolar do indivíduo. O tratamento pode
incluir psicoterapia, acompanhamento médico e, em alguns casos, o uso de
medicação. “Para quem vive com o transtorno, o acesso ao diagnóstico e ao
suporte adequado é essencial. E para todos, com ou sem TDAH, a mensagem é
clara: atenção é algo que se cultiva. E cultivar bem a mente é parte
fundamental do bem-estar”, destaca.
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