Armário onde Polícia Militar encontrou parte dos medicamentos; no mesmo local, havia veneno para insetos
Houve indiciamento por maus-tratos, cárcere privado, tráfico, desobediência e crime contra a saúde pública
O Ministério Público (MP) de Limeira conduziu ontem uma operação que resultou na interdição de uma clínica no Jardim Lagoa Nova. Já havia inquérito que apurava as condições do local e denúncias que chegaram ao MP. As atividades foram conduzidas pela promotora Letícia Macedo Medeiros Beltrame, que reuniu o apoio de órgãos da Prefeitura, Polícia Militar e Polícia Civil.
Já havia ordem da Divisão de Vigilância Sanitária (Visa) para que o local fosse fechado, mas, mesmo assim, o funcionamento continuava. Havia cerca de 40 pessoas no local e, conforme o delegado William Marchi, que conduzirá o inquérito na Delegacia de Investigações Gerais (DIG), havia idosos, adultos, adolescentes, pessoas com problemas mentais e usuários de entorpecentes, todos juntos.
O MP determinou a remoção imediata das pessoas, que foram atendidas por servidores do Centro de Promoção Social Municipal (Ceprosom). “Os pacientes foram encaminhados ao Centro de Acolhida do Ceprosom, onde técnicos fizeram triagem e cadastro para localização de familiares”, comunicou a Prefeitura.
Marchi explicou que, durante a abordagem, pessoas precisaram ser socorridas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o hospital. “Um deles tinha acabado de ser dopado. Falou por pouco tempo e desmaiou. No hospital, um médico informou que o paciente tinha recebido uma alta dose de medicamentos”, descreveu. Os adolescentes foram entregues para o Conselho Tutelar.
Além do local precário, os medicamentos, conforme a Polícia Civil, estavam em local inapropriado, outros tinham origem desconhecida e alguns, administrados sem autorização médica. Um dos pacientes relatou aos investigadores que sofreu agressão. “Descreveu que, assim que chegou, foi agredido com enforcamento. Ele disse, ainda, que provavelmente foi administrada dose a mais e, quando havia recusa para consumir o medicamento, era levado para uma sala e enforcado até abrir a boca”, completou o delegado.
O responsável pelo local, A.V.A., foi conduzido à DIG e indiciado por maus-tratos, cárcere privado, tráfico (por causa dos medicamentos), desobediência e crime contra a saúde pública. Dezenas de remédios foram apreendidas.
LEVANTAMENTO
Diretora de Proteção Social do Ceprosom, Léia Serrano, informou que levantamento inicial apontou que seis pacientes são de Limeira, e o restante, de municípios paulistas e de outros estados.
A chefe da Vigilância, Renata Martins, afirmou que a Divisão emitirá autos de infração pela presença de produtos de uso controlado sem receita médica e sem procedência, bem como pelo descumprimento da ordem de fechamento.
À Gazeta, Alexandre Ferrari, diretor de Vigilância em Saúde, informou que o regramento para esse tipo de estabelecimento é rigoroso. "Não poderia funcionar ali. O regramento para ter comunidades terapêuticas ou clínicas é bem rígido e a Vigilância Sanitária exige com rigor estas normas".
Ele diz que o caso registrado ontem remete ao passado, entre 2013 e 2014, quando a Vigilância Sanitária fechou 17 clínicas irregulares na cidade. "O modus operandi, o jeito de ela [clínica] trabalhar, dopando as pessoas, mantendo-as em cárcere, é semelhante ao das clínicas que fechamos naquela época. E, desde 2016, não temos denúncias desta natureza".
Ferrari pede para quem souber de alguma comunidade ou clínica clandestina, entrar em contato imediatamente no 156 ou na Vigilância Sanitária, 3404-9606. Mesmo os familiares podem ligar para saber se a clínica está regularizada.
DEFESA DO INDICIADO
O advogado Alexandre Bertolini, que defenderá A., informou que a clínica estava regular. “O quadro clínico, com pessoal de enfermagem, psicólogo e médico, estava completo. O local tem funcionários capacitados para administrar os medicamentos. Meu cliente assumiu o local há dez meses e, na instrução criminal, será comprovada a regularidade. Inclusive, três pacientes que estavam no local queriam permanecer por lá”, disse. A. foi preso em flagrante e hoje estará perante ao juiz, na audiência de custódia.