A Língua Brasileira de Sinais (Libras), idioma utilizado para comunicação dos surdos, ganhou maior visibilidade durante a última campanha presidencial e após o discurso da primeira-dama Michele Bolsonaro. Com as ações, cresceu o número de pessoas que se interessam e quer aprender o idioma. Para quem trabalha com os surdos, esse é o momento de avançar em relação aos direitos.
Libras é o segundo idioma oficial no país, enquanto o primeiro é o português. Conhecer a língua é fundamental para a comunicação com quem não pode ouvir. Para a coordenadora do Centro Educacional João Fischer, área surdez, Marina Alencar, e a fonoaudióloga Isabela Marchioni dos Santos, é possível identificar avanços no interesse pela língua após campanha e discurso.
"Foi possível sentir maior envolvimento dos surdos já na campanha. Percebemos a presença sempre com o intérprete, mesmo dos eventos não oficiais. Com isso, eles se sentiram envolvidos e pertencentes à sociedade. Isso não ocorria", cita. "Percebemos muitos ativos na campanha porque compreendiam", cita Marina.
Hoje, o espaço atende uma média de 35 crianças e adolescentes, mas também recebe adultos como monitoramento mensal ou quinzenal. No último ano, o Centro passou a oferecer curso de Libras para servidores e familiares. "O curso para os pais é contínuo e, para funcionários iniciamos no ano passado. Tivemos boa participação. O objetivo é que os surdos sejam atendidos adequadamente nos espaços públicos".
Após a posse, o interesse aumentou. "Muitos estão ligando, mas não atendemos a sociedade em geral porque não somos uma escola de Libras. Nosso acompanhamento é com as crianças. Nesse caso, temos orientado as pessoas a procurarem outros cursos, como o Senac, por exemplo", cita a fonoaudióloga.
DEMANDA MAIOR
O Senac Limeira oferece o curso de Libras 1 e 2 de forma gratuita e sentiu maior demanda. A instituição prepara o início dos cursos este ano. A docente da área de idiomas, Michele França, comenta que eles são divididos em dois módulos: o primeiro é mais básico, para conhecer a língua e identificar algumas palavras de convivência e, depois, é possível o aperfeiçoamento.
Normalmente, procuram pelo curso pessoas ligadas à comunidades, como igrejas ou outras insituições, e que têm interesse em estreitar a comunicação com a pessoa surda. "A escola possui funcionários surdos. Nas aulas, fazemos a conversação e dinâmicas. Os alunos também têm o contato com os funcionários para aprender e se comunicar".
Ela destaca que o curso também pode ser um diferencial no mercado de trabalho já que há empresas que têm-se aberto aos profissionais surdos. "Trata-se de uma língua com identidade própria e o momento é de maior visibilidade". As inscrições para os cursos estão abertas, é possível mais informações no site do Senac, pela procura por cursos livres em Limeira.
PARA CRIANÇAS
A professora Michele Diniz é intérprete educacional de Libras e atua com crianças na rede municipal de ensino. Durante as oficinas que ocorrem nas férias, Michele está na Biblioteca Pedagógica, da Secretaria da Educação, com objetivo de tornar as atividades acessíveis às crianças surdas. Uma oficina sobre Libras também ocorreu com os pequenos.
Ela também sente maior apoio e interesse após as últimas notícias. "Percebemos maior reconhecimento com o trabalho do intérprete e tradutor. Ficamos felizes e orgulhosos ao ver que tem havido mais espaço para que os surdos possam compreender o que acontece".
Cita o aumento de programação com "janelas", a maneira como é chamado o espaço em que um intérprete se comunica com o surdo. Normalmente, ela fica no canto da tela.
Michele leciona na escola municipal Professora Flora de Castro Rodrigues, que é uma escola bilíngue devido ao aprendizado de Libras. O desejo é que o reconhecimento seja ainda maior para que a sociedade se torne cada vez mais igual. "Muitas vezes, nem mesmo a família conhece o idioma que precisa ser cada vez mais reconhecido. A visão dessa gestão é muito importante porque valoriza e percebe a importância da inclusão".
A diretoria da escola Flora, Josiela Battistella, comenta os avanços ao ter crianças surdas e ouvintes na convivência diária e partilhando o aprendizado. "As que ouvem têm interesse em aprender e se comunicar com os colegas. Na escola, temos também um professor surdo que os ensina Libras. Os alunos, muitas vezes, dividem com os pais e estimulam que eles conheçam o idioma".
A escola tem 14 estudantes surdos e passou a ser bilingue em 2016. O trabalho ocorre com apoio do Centro Educacional João Fischer.
DESAFIOS
Para as profissionais do Centro João Fischer, é importante lembrar que a percepção de mundo para o surdo é muito diferente da percepção dos que ouvem. "Por não ser uma deficiência que identificamos ao olhar, muitos deixam de ser sensíveis a ela. Um cadeirante, por exemplo, as pessoas identificam imediatamente, já o surdo não, porque não podemos ver. Mas precisamos que as pessoas se conscientizem e queiram entrar no mundo dos surdos".
Entre os desafios está a colocação no mercado de trabalho. "Eles são aptos a diversas funções e não apenas uma produção. Há surdos que têm faculdade e não conseguem o espaço".
A defesa é para que o ensino continue a ser propagado e avance. "Se as crianças começarem a aprender, elas crescerão mais inclusivas. Batemos nessa tecla porque essa é a segunda língua oficial no Brasil. Se ensinam inglês, por exemplo, porque não ensinar Libras?", questionam as profissionais.